Aglomerando

Aglomerando - Agregador de conteúdo

Kung Fu Panda 2 - A metáfora do renascimento da Dreamworks



NOTA: 10 / 10

Kung Fu Panda 2
EUA , 2011 - 91 min.
Ação / Animação / Comédia

Direção:
Jennifer Yuh

Roteiro:
Jonathan Aibel, Glenn Berger

Elenco:
Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Lucy Liu, David Cross, Jackie Chan, Seth Rogen, Gary Oldman, James Hong, Michelle Yeoh, Danny McBride, Jean-Claude Van Damme

Em 2008, comentei no blog sobre a imensa diferença que existia entre os estúdios Pixar e a Dreamworks Animations, os maiores rivais no ramo do cinema de animação, ambos em um período decisivo de sua história. A Dreamworks combinava o bom humor de suas produções com um alto faturamento, mas ao mesmo tempo, sem pretensão de extrapolar o óbvio, beirava a repetição e a mesmice, tentando angariar popularidade com elementos que a consagraram , principalmente através de Shrek. Kung Fu Panda era a essência dessa fase, com muito visual, bom humor, mas sem um algo há mais que o diferenciasse. Por outro lado, a Pixar atingia seu pico com a produção de Wall-E, uma animação rebuscada tecnologicamente, narrativamente inovadora, e capaz de emocionar com protagonistas que sequer dialogavam. O 3º Oscar consecutivo da Pixar e os consequentes insucessos da Dreamworks mostraram que o caminho certo a ser seguido era o traçado por John Lasseter e sua equipe, tanto que a hegemonia da empresa se consolidou em seu 6º Oscar e no bilhão de dólares conquistado por Toy Story 3. Então, veio 2011.


Kung Fu Panda 2 mostra Po, o dragão-guerreiro, prestes a enfrentar um inimigo maior que o kung fu: a arma de fogo.

Do começo até o fim, o filme arranca suspiros de admiração, risadas e até mesmo emoção e empatia. O visual totalmente experimental aplicado na produção, misturando uma interação perfeita da computação gráfica com a animação tradicional, não só impressiona, mas consegue transcender a ideia de estética e linguagem do cinema de animação. Não é exagero comparar a inovação da utilização das mais importantes técnicas de animação em todos os meios, com a revolução trazida por Toy Story em 1995. Mais do que isso, a direção competente de Jennifer Yuh, uma artista que sabe utilizar a arte em favor da narrativa e não como um elemento separado e dispensável, fez com que a utilização de cores durante as lutas exemplarmente coreografadas, servissem como apoio para realçar delicadamente o estado de espírito de cada personagem.

E tudo isso com um inteligente toque oriental.

O desequilíbrio de Po, representado durante todo o filme pelos Ying-Yangs espalhados pelas cenas, o ódio objetivista do vilão Shen e sua tragédia quase edipiana em busca da paz de espírito, tudo, refletido nos cenários, na iluminação, interna e externamente, prevendo cada ato dos personagens e tornando a viagem tão mais profunda e exuberante. A sutileza desses detalhes também se espelha nos movimentos cuidadosamente pensados e mesmo uma fração de segundo, apenas um frame, pode redimir a mais perversa das almas (ou seria simplesmente a aceitação do inevitável e a compreensão do todo?).

Se o visual é capaz de inspirar tanta emoção e verborragia, os diálogos servem para levar a história de um ponto a outro sem pesar a carga filosófica. Po está mais afiado do que nunca e o carisma do protagonista rende boas risadas. Além do mais, depois do sucesso de Como Treinar o Seu Dragão, a Dreamworks parece lentamente se adequar aos dramas dos personagens, sem precisar desmoronar uma bela cena com uma piadinha fuleira qualquer.

Pouco a pouco, galgando seu lugar passo-a-passo, a empresa parece encontrar o seu rumo, sem copiar sua rival, produzindo grandes filmes com peso artístico, narrativo e, felizmente, original. Assim como Po, a Dreamworks deixa de ser apenas uma caixa registradora do cinema e volta ao ringue com um kung fu aprimorado, pronta para mostrar quem ela é.