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Amor sem escalas - Diretor de Juno volta a temporada de premiações, com drama aéreo

Amor sem escalas - Diretor de Juno volta a temporada de premiações, com drama aéreo

Up in the air


Nota: 8,5 / 10


Direção:
Jason Reitman
Roteiro:
Jason Reitman e Sheldon Turner
Elenco:
George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick, J.K. Simmons

Em um momento de Amor sem Escalas, o personagem de George Clooney é censurado pela aprendiz por estereotipar as pessoas que passam pelo aeroporto, para ganhar tempo entre um voo e outro. Ao que ele responde: "Minha mãe sempre disse que estereotipar é mais rápido". A frase não podia definir melhor o novo trabalho de Jason Reitman, diretor do premiado Juno e de Obrigado Por fumar. Se em seu filme anterior ele aborda um casal de adolescentes tendo que lidar com uma gravidez não prevista, agora ele mostra um homem tendo que encarar as consequências de uma vida longe dos laços afetivos. Lá vamos nós, novamente, para uma jornada por músicas e situações da cultura indie. E com todo o climão do filme, era impossível pensar que a meta não fosse outra, que não o Oscar.

Amor sem escalas mostra George Clooney em um emprego bem pessimista: ele viaja pelos Estados Unidos, demitindo pessoas pelos chefes que não tem coragem. Sua vida perfeita com casos amorosos banais é abalada quando uma aprendiz pretende mudar seu método de trabalho, mas antes, viajará com ele pelo país.

Não dá pra negar que Amor sem escalas tem boa qualidade técnica, boa edição e uma trilha sonora interessante. Cada cidade é mostrada por planos aéreos e a abertura do filme é marcante. Reitman tem bom domínio do desenrolar da trama. Se por um momento você começa a acreditar que o filme vai se afundar em um monte de clichês, acredite, faz parte da história. Os diálogos são de certa forma engraçados e o filme tem muito de comédia dramática. O elenco principal tem George Clooney que sustenta bem seu papel de eterno solitário e a bela Vera Farmiga, em papel que vale as indicações na temporada de prêmios.

Mas, por algum motivo, o diretor consegue tornar as jovens do filme insuportáveis. Já não bastasse a entediante Ellen Page como Juno, é hora de transformar Anna Kendrick(da saga Crepúsculo) em uma jovem irritante e pseudo-intelectual. Não há outra palavra que vá definir tão bem a personagem como chata. É ela o estopim de todas as mudanças na vida do protagonista(como toda má comédia romântica), com direito a lições de vida e clichês do gênero. O ritmo bem estruturado do filme poderia ter ido ainda mais longe, não fosse a presença desse desgaste de tempo. É quase como Jar Jar Binks em A ameaça fantasma.

Apesar dos problemas gritantes do filme, a virada final mostra porque Jason Reitman é tão alardeado. Em seus filmes, os personagens estão muito mais perto do público por não poderem alterar as consequências de seus atos. Em Juno, resta a personagem tocar sua vida, longe do filho e torcer por um futuro melhor. Em Amor sem escalas, tudo que foi plantado na vida não pode ser esquecido por uma simples corrida no aeroporto. Uma vida solitária será pra sempre uma vida solitária. E nesse aspecto agridoce, a sensação ao sair do cinema é bem longe do céu.

Sherlock Holmes - 2010 traz versão renovada do famoso detetive e prevê um bom ano para o cinema


Sherlock Holmes - 2010 traz versão renovada do famoso detetive e prevê um bom ano para o cinema

Nota: 8 / 10
Inglaterra/EUA, 2009 - 128 min
Aventura / Suspense
Direção:
Guy Ritchie
Roteiro:
Michael Robert Johnson, Anthony Peckham, Simon Kinberg
Elenco:
Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Kelly Reilly


Lupa, boina, sobretudo e um cachimbo. A figura aústera do londrino mais famoso da literatura policial sempre volta a mente quando falamos de crimes e detetives. Sherlock Holmes inspirou as histórias de detetive e seriados policiais que habitam o mundo atual, com sua forma diferente de analisar evidências. Claro, que também mostrou as imperfeições de um herói viciado em ópio e cocaína, obcecado por seu trabalho. Nos cinemas, apesar de inúmeras participações em filmes, próprios do detetive apenas alguns se destacaram, como O Enigma da Pirâmide, produzido por Steven Spielberg e que tornou-se um clássico dos anos 80. No Brasil, o Holmes clássico conhece as terras tupiniquins em O xangô de Baker Street, mas sua capacidade de dedução é perturbada pelo clima e temperos brasileiros. Foi Guy Ritchie quem trouxe a lenda de volta, com as devidas modificações Ritchianas: o estilo irlandês bom de briga, bêbado e mulherengo substitui a calma e mentalização do personagem de Doyle, mas com a boa intenção de adequá-lo a uma Londres difícil de lidar no século 19.

A história acompanha Holmes enfrentando Blackwood, o líder de uma seita parecida com a maçonaria. Após sua execução, rumores de sua ressureição precisam ser investigados antes que o mundo como o conhecemos seja destruído. Para essa missão, o fiel escudeiro de Holmes, Watson e uma misteriosa garota vão ajudar o detetive, ao mesmo tempo que um conhecido inimigo se levanta nas sombras.

As mãos do estiloso Guy Ritchie podem não tocar mais Madonna, mas ainda provam que o diretor sabe mostrar aquilo que o público quer ver. Conhecido pelo seu trabalho interessante em filmes como Snatch: porcos e diamantes e Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, ele também consegue criar obras menos talentosas como o horroroso Destino insólito. Felizmente, Holmes parece trazer de volta não apenas as características visuais do diretor, como também o Ritchie Old School. Os cenários e a música trazem de volta o tom sombrio da Londres em plena revolução industrial. Máquinas a vapor, o auge da tecnologia em um mundo que está prestes a deixar o obscurantismo da idade das trevas. A sujeira aparece mesmo nos filtros de luz pálida que o diretor joga no ambiente e consegue deixar a cidade com o mesmo estilo dos estacionamentos de trailer em Snatch.

Robert Downey Jr. é um ótimo Tony Stark, um século atrás. É impossível não comparar o maior papel do ator com essa nova versão de Holmes. Sai toda a classe do personagem para entrar um Holmes das ruas, violento intempestivo, mas competente como sempre. E pé-de-cana. Aqui, ele ainda luta boxe, como forma de extravasar a tensão. Destaque para a forma competente da utilização dos slow motions em meio as lutas, onde Sherlock visualiza o inimigo antes de acertá-lo . A habilidade dedutiva do detetive também esta lá, e até o final Scoobidiniano(quando Scooby Doo revela que o dono do parque é na verdade o fantasma fantasiado) que faz parte das histórias de Conan Doyle estão presentes. Para ajudar Downey, Jude Law encarna Watson, um verdadeiro veterando de guerra, cheio de surpresa nas mangas e muito mais do que apenas a deixa para falar a frase(que não aparece no filme) "elementar, meu caro Watson. O rival Blackwood(Mark Strong) é assustadoramente místico e serve bem como opositor ao talento inegável do protagonista.

O que mais podemos reconhecer em Holmes é essa luta entre a tecnologia e o sobrenatural, digna dos livros de Sir Conan Doyle. Em todos os momentos nota-se a eterna luta entra a razão e a religião, o medo sendo o principal catalisador da fé. Ao invés de abraçar o desenvolvimento, busca-se o progresso através da subjugação da humanidade, algo que a igreja católica já havia feito e cabia a essa nova religião. Essa discussão claro é obscurecida pelas explosões e ganchos para futuras continuações, mas não se mantém distante do espectador mais atento.

Sherlock Holmes é diferente daquele que conhecemos do livro, mas ainda assim, é um estranho que funciona na telona.