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Nostálgico

Outra semana que se passa na minha vida. Cada vez que me perguntam a idade, eu travo uma batalha interna que chega a doer. Por um lado, eu sei que amadureci, que eu não sou mais um pirralho que odeia a escola e fala bobagens sem pensar. Que eu não sou aquele menino gordinho que ninguém(leia-se como "nenhuma garota") se interessava, a não ser talvez pela cola nas provas ou ajuda nos trabalhos. Não tenho mais os friozinhos na barriga que tinha quando ia se findando o fim do fim-de-semana, e o começo de uma nova semana traumatizante para mim na sexta série. Me tornei menos dependente de meus pais, mais capaz de tomar decisões sozinho, mas claro, respeitando sempre a opinião deles. Não que às vezes eu não contrarie-os, mas isso é só na minoria dos casos...

Em contraparte, cada semana, dia , ano que passa, algo como uma precoce nostalgia aumenta dentro de mim. Posso não ser mais o menino gordinho, mas mais do que nunca, tenho que me preocupar com o que as pessoas pensam de mim, coisa que nem me interessava quando era menor. Amo a escola, mas me arrependo amargamente de não ter desenvolvido essa sede pelo conhecimento alguns anos antes. As coisas seriam diferentes. Agora, o friozinho na barriga vem quando eu abro a carteira e vejo menos notas do que eu esperava,(ou imaginava??) que deveriam estar ali.

Em todo caso faz parte. Todos crescemos. Sempre temos uma vontade incrível de acabar com nossas responsabilidades. Jogar tudo para o alto. Mas não fazemos. Faz parte

Páginas amarelas


Hoje começa o primeiro Páginas Amarelas.
Oh, mas o que isso quer dizer??

Dada a tristeza e o pessimismo de alguns de meus contos, resolvi criar esse bloquinho. Por que
Páginas Amarelas??? Isso vocês saberão mais tarde.
Bem, o que interessa é que vocês votarão como será o final. Mais ou menos um você decide. Por comentários ou msn, catalogarei-os e escreverei o com melhores votos, ok??

Abraços e votem.

Até breve...

UPDATE: Postado abaixo

Páginas amarelas: Humor negro

A luz de 60 watts iluminava a mesinha precariamente. O pequeno caderno amarelado tremia ritmicamente com o movimento veloz do lápis sobre ele. O carvalho cheio de marcas, cortes e sujeiras, mantinha se firme, sem aparentar a velhice em sua sustentação. A mão branca que voava de lado a lado do papel, exibia já inumeras veias salientes pelo esforço físico desprendido para a realização da escrita. A lágrima escorreu do olho esquerdo e manchou a folha áspera.

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- Eu já disse: não!
O telefone chocou-se violentamente no gancho. Com a ponta dos dedos massageando a têmpora, se apoiou na mesa com os cotovelos, e de olhos fechados tentou relaxar. Já não era a primeira vez que se esquecia de algo. Ultimamente, o stress estava lhe causando sérios danos a memória, o que lhe causava além de terríveis dores de cabeça, problemas no trabalho. Abriu a gaveta e puxou uma cartela de comprimidos. A dor de cabeça voltara. Engoliu os comprimidos com raiva e sentiu-os trancarem na garganta e descerem arranhando, até caírem no estômago. Sua mente rodava com os últimos acontecimentos. A pressão era enorme. Seu chefe estava a ponto de demiti-lo. Sua esposa reclamava da falta de atenção para com ela e seu filho de 8 meses. E sua amante parecia mais interessada em seu dinheiro, do que nele propriamente.
Em uma semana ele estaria completando 30 anos e ninguém dava a mínima também. Nem ele. O excessivo calor previsto para durar até o fim-da-semana só o fazia pensar em um banho gelado e na sua nova aventura. Dane-se a ética, ninguém queria saber dele e ele também não queria saber de ninguém. Outra amante poderia parecer sórdido para outras pessoas, mas para ele não importava. A única coisa que ainda o prendia a tudo isso era seu pequeno filho, um bebê robusto, de pele clara e olhos de um cinza belíssimo. Ah, mas se não fosse por ele...
A dor começava a sumir e uma leve sonolência começava a nublar-lhe a mente. Sacudiu a cabeça e voltou ao trabalho.

O ar quente e abafado da rua lhe trouxe de volta a realidade. Enquanto saía do escritório com o ar condicionado ligado ao máximo, lembrava dos carinhos da amante. Mas agora voltava ao ar opressivo que lhe trazia a mente situações mais desgastantes e repulsivas. Dirigiu-se até o carro, que ficara o dia inteiro exposto ao forte sol de verão. Ao abrir a porta, um calor ainda maior soprou para fora, fazendo-o instintivamente se afastar. Entrou no carro com cuidado. O calor lhe irritava. E agora o trânsito o irritaria ainda mais.
O celular tocou. Antes de atender ele arrancou com o carro, dirigindo em velocidade imprudente pela rua principal.
- Sim? - atendeu ele mal-humorado.
- Querido. - disse uma voz triste pelo telefone. - Você vem para o jantar hoje?
Irritado pela pergunta, mentiu algo como uma reunião e desligou o telefone. Dirgiu-se à casa da amante.

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Chegara tarde na noite anterior e agora estava com sono. Sentado na cama, numa indecisão sonolenta sobre qual meia usar. Sua mulher já preparava as coisas, dizendo que teria que sair mais cedo e ele levaria o menino para a creche. Ok, dissera. Tanto fazia. Se bem que, um tempo a mais com seu menino não ia fazer mal.
Que noite terrível tivera. A nova amante parecia ter adotado os mesmos costumes da antiga. Mal chegara na casa e ela já pediu a ele que lhe comprasse algumas jóias. Na mesma hora perdeu toda a vontade de fazer qualquer coisa e saíra para beber. Agora a ressaca acabava-lhe com a mente.

Pegou o menino e colocou-o no banco de trás do carro, onde estava sua cadeirinha. O trânsito estava caótico como sempre. Um acidente mais a frente causara um engarrafamento de 3 quilômetros. Lembrava-se da cara irritante da amante na noite passada. Voltou-lhe a dor de cabeça com força total. O calor no carro o fazia transpirar muito e fazendo o delirar muitas vezes. Via a face da amante que de repente se tornava sua mulher, com um rosto triste que lhe dava dó. Sentiu-se angustiado. Veio-lhe a imagem do seu chefe gritando, mas seu grito parecia de buzinas de carro em seu rosto. Piscou os olhos e voltou a si. Ainda estava parado no trânsito e o sol subia mais alto ainda. A dor de cabeça cada vez mais forte. Resolveu voltar para casa e descansar um pouco. Não estava em condições de trabalhar hoje.
Assim que o carro virou a esquina, começou a se sentir melhor. Estacionou na frente de casa sem se preocupar em colocá-lo na garagem. Entrou em casa pegou 2 comprimidos e tomou-os com um copo de água gelada. Tirou os sapatos, afrouxou a gravata, recostou-se na poltrona com imenso prazer e dormiu.

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Sentiu no bolso da camisa algo tremer e de súbito acordou. Devia ter dormido por duas ou três horas. A tontura do sono ainda o atordoava. Atendeu o celular.
- Querido, onde você está? - a voz de sua mulher irritava-lhe ainda mais pelo celular, principalmente por acordá-lo.
- Estou em casa. Não me senti bem e resolvi descansar um pouco. O que você quer?
- Onde está o bebê?
- Deixei-o na creche, como você pediu.
Ela silenciou.
- Não pode ser, - disse ela - a diretora da creche acabou de ligar dizendo que você nem passou lá hoje.
Algo estalou na sua mente. Seus olhos se arregalaram. Sua mulher o chamava mas ele não respondia. Deixou o telefone cair no chão e correu em direção ao carro. A tontura do sono ainda o deixava desequilibrado, mas ele seguiu firme ao seu destino. Botou a mão na porta, mas ela estava trancada. O filme colocado nos vidros e a visão turva não permitiam que ele visse por dentro do veículo. Pegou uma pedra e com força jogou-a contra o vidro. "Preciso abrir". Nada. "Não ele, por favor". Jogou-a outra vez. Bate. Nada ainda. Crava os punhos com força, mas o vidro não cede. Corre até dentro da casa e procura em todos os lugares mas não acha a chave. " Ele é inocente, não, não". Lágrimas de ódio e dor se espalham pelo seu rosto cada vez mais fortes. Sente-se impotente. Uma criança. O bolso. Sim, estava no bolso o tempo todo. Idiota, idiota, idiota.
Talvez ainda haja tempo. Correu cambaleante até o carro, destravou-o e entrou rapidamente.
A criança parecia adormecida. Ele a segurou no colo e desastradamente tentou ouvir a respiração. O batimento cardíaco...sim!!! Havia! Mas, como batia acelerado. "Não, não,não.".
A criança parecia um saco de ossos em seus braços. Ele chorava agarrado firme a ela. Seus vizinhos se aproximaram devagar. Ele gritava, berrava. Os olhos cinzas abertos, sem vida. Não havia ouvido o coração do bebê. Mas sim, o bater desesperado de seu próprio coração.


Uma folha amarelada voou pela calçada.