Aglomerando

Aglomerando - Agregador de conteúdo

Como Treinar o seu Dragão - A DreamWorks reaprendendo a andar

Como Treinar o seu Dragão - A DreamWorks reaprendendo a andar

Nota: 9 / 10

How to Train Your Dragon
EUA , 2010 - 98
Animação / Aventura / Fantasia

Direção:
Dean DeBlois, Chris Sanders

Roteiro:
Dean DeBlois

Elenco:
Jay Baruchel, Gerard Butler, America Ferrera, Craig Ferguson



O tema da minha monografia é como a Pixar revolucionou o cinema de animação. Depois do momento de crise pelo qual a Disney passou em seu setor de animações, foi o ar renovador da Pixar que levantou o moral da empresa e conquistou o respeito em uma nova era de ouro nas produções de ambas. Correndo por fora, o advindo da computação gráfica fez pipocar dezenas de empresas de animação, mais preocupadas com o visual propriamente dito do que pela história e roteiro. A Dreamworks começou com esse problema mas conseguiu virar o jogo com Shrek, um filme revolucionário ao integrar adultos e crianças em uma história debochada e diferente. Levou o primeiro e único Oscar da empresa. Parece que depois desse sucesso, a Dreamworks de Spielberg decai de qualidade, com produções sem vergonha e fracas. Enquanto isso, a Pixar emplacou. Foram 5 prêmios da academia, indicações a roteiro original, trilhas sonoras e até Melhor filme com UP, que abriu o Festival de Cannes. A última produção que quase alcançou seu nível foi Kung Fu Panda, vencedora do Annie Awards, o Oscar da animação. Veio então Madagascar 2 e o infeliz Monstros Vs. Alienígenas, dois filmes esquecíveis com história de soluções rápidas e insossas, que teimavam em reutilizar todos os clichês possíveis em uma hora e meia de projeção. Graças a Deus, Como Treinar o seu dragão é o completo oposto de tudo isso.

A história mostra o garoto viking soluço que tem um problema incomum em sua vila: dragões. Todos os habitantes são matadores de dragão, mas Soluço é fraco demais para a tarefa. Em um golpe de sorte, ele consegue capturar um dos dragões mais perigosos do mundo e descobre que tudo o que eles sabem sobre os animais, estava errado.

Na direção do filme, Chris Sanders e Dean DeBlois, os diretores de Lilo e Stich da Disney. Desde o começo podemos dizer que o timming do filme não é o humor, mas uma carga dramática forte. Estão lá alguns elementos básicos como a disputa com o pai, a sempre presente característica do "seja-você-mesmo" e até os conflitos amorosos. Mas, tudo isso se releva quando Soluço finalmente encontra Banguela um dragão que ele sem querer consegue derrubar. A partir desse momento, são visuais inesquecíveis e cenas poéticas. Ouso dizer que a Dreamworks recriou (à sua maneira) a dança de Eve e Wall-E, quando dragão e menino desenham seu "rostos" na areia. Uma cena linda assim como tantas outras que o filme vai mostrar no decorrer da história.

Nesse ponto não há como deixar de lado a técnica exímia que a empresa emprega em seus filmes. Os voos, os ataques e o clímax do filme mostram que os caras não brincam em serviço. As falhas ficam por conta do execesso de escuridão nas cenas de conversa entre o pai e o filho e em alguns momentos onde Banguela quase não se distingue do cenário(o óculos 3d parece deixar a tela mais escura do que o normal), mas nada que atrapalhe o desenvolvimento do filme.

Entre todas as característica a serem ressaltadas, o roteiro é a maior vitória. Tudo bem que seja baseado em um livro, mas não são todos que tem a coragem de mostrar deficiências em seus heróis ou fugir do lugar comum, já que nesse espaço de conforto as bilheterias são garantidas. É quando uma empresa aprende a fugir desse lugar que podemos ver o seu crescimento, vê-la adulta.

E eu espero voltar a falar tão bem da Dreamworks, como me orgulho de falar muito bem da Pixar.

O Segredo dos seus olhos - Como Campanella superou A fita branca

O Segredo dos seus olhos - Como Campanella superou A fita branca

Nota: 9,5 / 10

El Secreto de Sus Ojos
Argentina / Espanha , 2009 - 129 min
Policial / Drama
Direção:
Juan José Campanella
Roteiro:
Juan José Campanella
Elenco:
Ricardo Darín, Soledad Villamil, Guillermo Francella



A fita Branca
entrou como grande favorito na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Entre os indicados, novamente Juan José Campanella concorria pela Argentina depois do excelente O Filho da Noiva, com O segredo dos seus olhos. Na hora do anúncio, a surpresa: A academia premiou o filme argentino contradizendo as maiores apostas. A mais agradável contrariedade da noite, fica visível claramente quando assistimos os dois filmes. Apesar da densidade de Michael Haneke, o filme de Campanella é muito mais cinema que seu rival.

A história mostra um homem que no final de sua vida decide escrever um romance sobre um caso de justiça ocorrido na época da ditadura argentina: um estupro seguido de morte ao qual o acusado nunca foi preso.

Diferente da maior parte dos filmes do diretor, O segredo dos seus olhos é um filme mais tenso do que os demais. Apesar do humor refinado sempre presente em suas películas, a carga dramática e o suspense se desenvolvem tão naturalmente quanto às risadas. Outra característica marcante é a direção ousada que ele impõe, com tomadas corajosas e enquadramentos especiais que mantém o clima construído durante toda a projeção.

A fotografia do filme é de um primor pouco visto no cinema sul-americano. Uma das cenas merece comentários a parte: Um plano-sequência sobre o estádio do time de futebol Racing, que dura quase dez minutos e culmina em uma das perseguições mais incriveis dos últimos tempos. Só esta cena é capaz de sintetizar a ousadia de Campanella que teve um orçamento de apenas 2 milhões de euros(não é metade do que custou Lula, o filho do Brasil) e fez milagre com bom argumento e ótimos personagens.

São eles outro destaque do filme. Ricardo Darín é velho conhecido dos fãs, um dos maiores atores argentinos dessa geração. Nesse filme, apesar de sua importância e competência, são os coadjuvantes que roubam a cena, como o bêbado inveterado Sandoval(o comediante Guillermo Francella) que traz humor mas também emociona com muita competência. Juntam-se a ele Pablo Rago como o marido da vítima Morales e Javier Godino, o lunático assassino Goméz. Personagens que são mais do que apenas falas no roteiro, mas são parte fundamental da trama por trás do título.

Já dizia Pierre Weil, em O corpo Fala, que 90% de nossa comunicação é física, sendo 10% reservadas à fala. A todo o momento, o diretor nos joga diálogos que em compensação revelam muito menos que os olhos dos personagens. A todo momento, um close tenta nos revelar qual o segredo está escondido em cada um. Seja no relacionamento nunca estabelecido entre dois amantes frustrados, seja em um interrogatório, seja em uma conversa de amigos ou mesmo entre uma vítima e o investigador. Por trás de cada olhar, um segredo capaz de mudar uma vida. Mas, em qual desses pares de olhos se esconde o maior segredo?

De todas as metáforas que J.J. Campanella poderia se utilizar é na visão que cada um de seus personagens se atém, a sua paixão que ele se concentra. Quando o personagem de Darín finalmente abandona sua visão presa ao passado é que consegue olha para aquilo que estava tão a frente de seus olhos.

É com esse tipo de armadilha criativa que O segredo de seus olhos bateu A fita branca. Ele é menos tratado sociológico e mais filme. Sem desmerecer qualquer um dos dois, mas o argentino é mais humano e consegue conquistar sua audiência. Se tem algum pecado, é seu didatismo em certos momentos. Mas, até isso você perdoa e sai do cinema com a sensação que todo filme deveria passar: a sensação de estar completo.