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Quebrando a banca - Mais, do mesmo, de novo.


Quando "21" chegou arrebentando três semanas consecutivas na liderança, algo parecia ter funcionado no filme com Kevin Spacey, Lawrence Fishburne e um monte de atores iniciantes. A passagem apagada de Quebrando a Banca pelos cinemas daqui parecia uma injustiça com o filme. A chegada do dvd me mostrou que não foi tão injustiçado assim.

Na trama, 5 jovens do MIT, usam um sistema de cálculos para bater as bancas de blackjack em Las Vegas. Liderados por um professor veterano, seus únicos inimigos são os seguranças que pretendem pegá-los de qualquer forma.

Tá, não que o filme seja tão ruim assim. Ele é bem feito, tem boas tomadas, o efeito de abertura é interessante e a premissa é bem bolada. Baseado em um livro, onde estudantes do MIT realmente derrubaram a banca de blackjack através de um sistema de contagem de cartas, o desenvolvimento é que cansa. A mesma ladainha de sempre: o nerd sem dinheiro, sem meninas, que abandona os amigos por causa da oportunidade mágica de ganhar dinheiro e a garota dos sonhos, atinge o auge, cai, reencontra os amigos, se fortalece novamente e dá a desforra. Sem contar que o cara era físico, matemático e queria fazer faculdade de medicina(???): a coerência não é o forte do roteiro. Nem o romance. Nem os atores mais jovens.

Porque, se alguém segura o filme nas costas, são os veteranos Kevin Spacey e Fishburne. Ambos, convincentes e ótimos em seus papéis, mostrando que não estão pra brincadeira, assim como seus personagens, "esmurrando" pirralhos.

Pena que não é suficiente. O filme é redondinho, mas lembra um "Onze homens" versão Malhação.

Festa de Família - O primeiro modelo do Dogma 95


As firulas dos efeitos especiais, pirotecnias, trilhas sonoras retumbantes, iluminação especial e fotografia alterada. Esqueça tudo. Dogma 95 é um manifesto que não se permite tais luxos. A iluminação deve ser natural, as músicas só são permitidas se fizerem parte do ambiente, atores não podem usar maquiagem. Essas são algumas das regras do controverso movimento criado pelos diretores Lars Von Trier e Thomas Vinterberg e exibidos pela primeira vez no ano de1998 em Cannes. Sua estréia, foi o filme Festa de Família.

No sexagésimo aniversário de um patriarca de família, seus filhos e parentes reunem-se para celebrar a data. Dois meses antes, uma das filhas suicidou-se, o que traz um clima estranho para a festa, onde segredos do passado vêm a tona e preconceitos são expostos de forma vergonhosa.

Thomas Vinterberg atém-se fielmente as regras do Dogma 95. Por vezes, a iluminação do filme é escassa, quando não é escassa é exagerada. As poucas vezes que o filme usa trilha sonora, é quando os personagens tocam algum instrumento, e mesmo assim, é o som ambiente que é captado e não uma dublagem. O que o filme ganha com isso? Muita qualidade. Interpretativa ou de roteiro, essa é a força do filme, já que esteticamente ele não oferece uma qualidade visual  hollywoodiana. Mesmo que a falta de certos elementos no filme seja um ponto a mais, pode incomodar a audiência despreparada. Fora isso, uma história densa e forte que mexe com os brios. Muitas pontas soltas no ar propositalmente: afinal, qual o interesse dos empregados na destruição da família? Seria uma espécie de desforra? 

Outro ponto pouco explorado é o preconceito ao namorado negro de uma das filhas e o papel do caçula como substituto de seu pai na maçonaria. Pontos que não enfraquecem o filme, apesar de tudo. Uma excelente qualidade narrativa, um ponto para o cinema autoral.

House of the dead, O Filme - Devaneios de um quadrúpede chamado Uwe Boll


Confesso para vocês, que estava cansado de só escrever críticas de filmes bons. Angustiava-me quando terminava uma crítica e pensava, poxa, só falei bem do filme, não achei pontos negativos. Decidi então, submeter-me a uma sessão verdadeiramente trash, para trazer um pouco mais de visceralidade à minhas críticas e ter um ponto de comparação. Fui direto em um dos diretores mais avacalhados do mundo, atualmente: Uwe Boll. Responsável pelas piores adapatções de games já feitas, tive o desprazer de assistir algum tempo atrás, o filme Alone In The Dark. Dessa vez, ataquei com uma droga mais pesada: sua estréia de sucesso, House of the dead.

Baseado em um dos games mais underground das casas de fliperama, House of the dead, mostra um grupo de jovens(começa a originalidade por aí), que vão participar de uma rave na Isla de la Muerte(é...). Para chegar até a ilha, alugam um barco, onde um capitão e seu tripulante dizem que a ilha é maldita(mais clichê impossível). Chegando lá, os jovens notam que a festa está destruída e encontram poucos sobreviventes, que com eles vão tentar escapar do lugar.

Bom. Se é para falar mal, vamos falar direito: Quem disse para Uwe Boll, que ele tinha algum talento na direção de filmes? Quem foi essa pessoa????
Sem pensar muito, esse é um dos piores filmes que já assisti em minha vida(e olha que não foram poucos). Um enredo cheio de clichês, diálogos fracos, piadas sem graça, muita má interpretação por parte dos atores, uma fotografia péssima, uma escolha de câmera horrível. Quer mais? Ele descobriu como fazer um efeito 360 na câmera e usou isso 35 vezes em 30 minutos. Boll ainda conseguiu fazer uma das piores cenas de ação de todos os tempos, quando os personagens, tentando preencher a falta de roteiro, ficam atirando durante quase meia hora em zumbis(muito mal feitos, por sinal). Sem saber coordenar passagens de tempo, o filme é arrastado, cansativo, sem graça, com péssimos efeitos, péssima trilha sonora e estou tentando achar mais áreas de um filme para falar mal, mas acho que é só isso. 

Depois dessa bomba, só tenho a dizer uma coisa: corra sem pensar quando chegar perto de qualquer filme desse cara. Exemplo: Em nome do rei, BloodRayne, Postal e Alone in the Dark.

Você não vai se arrepender de não alugá-los.(A Will me fez este alerta e eu não ouvi)

Entre o céu e o inferno - Samuel L. Jackson e Christina Ricci dominam filme de cultura blues


A primeira cena do filme, remete a um documentário sobre blues nos anos 50.  O estilo é criado através da melancolia do compositor, eternamente apaixonado, eternamente sofredor. É aí que entra Rae, interpretada magnificamente por Christina Ricci(quem não lembra, ela foi a Vandinha em A Família Adams), uma garota que tem sérios problemas de ninfomania toda vez que seu noivo não está por perto. Quando ele, Ronnie vai para a guerra, é o estopim para que ela caia na cama de meia cidade. Enquanto isso, Laz, um fazendeiro músico de blues, recebe um belo fora da mulher de sua vida. O velho isola-se em casa na bebedeira e Rae, nas drogas e no sexo. O encontro dos dois, motiva Laz a tentar curar a garota e nesse processo curar a si mesmo. Nem que para isso tenha que acorrentar a menina ao seu aquecedor.

Essa premissa bizarra parece ser um prato cheio para uma comédia trash, com gags e piadas pastelão. Mas, nas mãos do diretor e roteirista Craig Brewer(Ritmo de um sonho), isso é prato cheio para uma análise profunda de dois personagens poderosos. O filme tem seus momentos cômicos, mas sua carga dramática é muito forte. Os personagens são reais, não meros fantoches sem alma. A tensão que existe entre eles parece real. A bela Rae, como o fruto proibido e serpente, enquanto Laz é um Adão pecador, que tenta redimir-se. Mesmo sabendo de sua fraqueza, ele não desiste. Em muitas vezes um sacerdote, outras um pai. É quando ele mesmo começa a reconhecer seus problemas e enfrentá-los.

Sam Jackson é ótimo e comedido como sempre. Sem contar que o próprio ator interpreta as músicas de seu personagem. Destaque para a cena final do bar, onde ambos provam da liberdade por poucos momentos, entre uma música e uma dança. Christina Ricci não tenta parecer bonita no filme: isso acontece naturalmente. Do seu descaso inicial com o mundo, a personagem transforma-se em algo muito mais forte ao seu final. Não acontecem curas completas. Como no mundo real, os personagens têm que aprender a conviver com esses problemas e superá-los juntos. 

Entre o Céu e o Inferno é um daqueles filmes que não tentam passar lição de moral, mas ensinar algo a seu espectador. E consegue com sucesso.

Mr. Vingança - Indigesto, chocante e inteligente


Tem certas peculiaridades e adaptações que o cinema americano considera politicamente incorreto trazer a um filme, no cinema. São como regras subjetivas que visam poupar o espectador de uma reflexão maior sobre a obra, por se tratar de cenas fortes ou que vão contra uma moral pré-estabelecida. É por isso que os filmes estrangeiros que lá rodam, não fazem sucesso entre o público médio americana. Fernando Meirelles disse que cabeças estourando, o americano não dá bola. Mas, é só mostrar um estupro que o filme está oferecendo violência gratuita. Isso tudo, por conta da organização religiosa de onde o país surgiu e criou tantos bloqueios. O que dizer então, dos países orientais, onde essa tradição milenar se impõe ainda mais forte, com retalhações fortes a desvios de comportamento? Por isso, o feito do diretor coreano Chan-Wook Park, com seu Oldboy de 2005, foi uma tarefa ainda mais árdua, por envolver fortes questões como violência física exagerada e até incesto em seu roteiro. Tudo isso, parte da Trilogia da Vingança, iniciada em 2002 pelo filme Simpathy for mr. Vengeance(no Brasil, Sr. Vingança), que chegou recentemente ao país, devido ao sucesso de seu predecessor.

A história mostra o surdo-mudo Ryu, que tenta achar um doador de rim para sua irmã. Nessa busca, decide comprar um órgão no mercado negro. Os contrabandistas, no entanto, apenas roubam o seu rim e todo o dinheiro, deixando-o sem nada. Assim, ele e sua namorada sequestram a filha de seu ex-chefe e cobram resgate. Depois disso, duas reviravoltas mudarão todo o destino dos personagens envolvidos.

Isso é tudo o que pode se falar do roteiro, sem entregar demais a história. O diretor sabe muito bem como consuzi-la. Park tem paciência e suas tomadas deixam isso muito claro. Ele não abusa de cortes, utiliza-os com precisão. A maioria das cenas, parece deixar a câmera simplesmente parada, deixando a cena seguir seu rumo, sem interferir de qualquer forma. Um foco no rosto de uma morta enquanto uma garota se afoga ao fundo, sem que Ryu se dê conta, é a forma de amenizar a crueza da cena. As poucas falas do filme apenas delineiam as sensações que a visão preenche. As saídas utilizadas pelo diretor para problemas, como a incapacidade de Ryu em comunicar-se, são expressas de maneira competente, como utilizada no cinema mudo. Uma homenagem muito bem-humorada, assim, como o personagem perturbado que rouba a cena nos momentos em que aparece. Humor negro de primeira!

Se os méritos do diretor são tantos, deve-se muito ao poder do roteiro. Escrito pelo próprio e por seu irmão, a história é de uma originalidade que faz falta em Hollywood. Cada reviravolta é muito bem bolada, assim como cada saída para situações provocadas. Um trabalho primoroso, que conta com a ótima atuação dos protagonistas. O chefe de Ryu, Park Dong-jin(Kang-ho Song, de O Hospedeiro) mostra que é o verdadeiro protagonista do filme(será?)  ao assumir o terceiro ato da película e liderá-lo até o final. 

Seu Madruga já dizia: A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena. O ciclo de violência que inicia-se nos primeiros momentos, tende a piorar cada vez mais no desenvolvimento da história. Quanto mais os personagens afundam-se em suas obsessões, mais tornam-se imunes à dor, mais mortos a cada momento. Esse é o grande veneno que os destrói.

Piaf - Um hino ao amor


Cinebiografia de cantores têm sempre um lado emotivo muito forte. Não é exceção o filme Piaf, mas nem de longe isso é um demérito. Como a interpretação e as músicas que Edith Piaf apresentava, o filme é sensível, forte e trágico, como toda boa história real.

Edith Piaf é considerada a melhor intéprete da canção francesa do século passado. Uma voz poderosa e uma interpretação vívida das músicas, fizeram-na superar uma infância criada em bordéis e circos, e uma juventude onde cantava para poder pagar um almoço. Uma vida cheia de tragédias, onde a cantora sempre encontrava paz, nos palcos, cantando.

Primazia técnica do diretor Olivier Dahan, que privilegia planos-sequências surreais pelo apartamento da Edith de 1947. A cena é quase um resumo daquilo que o filme se propõe: uma visita às memórias da cantora em seu último dia de vida. A narrativa não-linear que joga com a Edith do passado e futuro, serve para revelar lentamente características da personagem. Enquanto abre portas de quartos, desesperada, encontra na última, alívio em um palco de um teatro lotado. Lá, despeja todo seu encanto, beleza e tristeza. Sabe como ninguém, conquistar a platéia.

Nada disso seria possível sem a presença forte e pulsante de Marion Cotillard. A atriz está irreconhecível no papel principal. Surpreedi-me ao ver as fotos da atriz sem a pesada maquiagem de Edith: linda, ela consegue tornar-se feia. Mas, nessa feiúra, sua interpretação a faz tão bela que nossa visão parece nos enganar. Atuação surpreendente, digníssima de um Oscar. 

Piaf é como toda cinebiografia. Ancora-se no drama, então vícios e desgraças são comuns, e provavelmente, tornar-se-ão a desgraça do protagonista. Assim como em Pollock, a bebida destrói mais uma artista genial que embelezava um mundo cada vez mais negro e amusical.

Netto Perde sua alma - Na semana Farroupilha, não há filme melhor para alimentar o espírito gaaúcho


Lançado no ano de 2001, Netto perde sua alma demorou mais de dois anos para sair em dvd. Depois de todo esse tempo, não é de se admirar que o filme não tenha feito tanto alarde, mesmo porque seu auge foi nas premiações do Festival de Gramado. Além disso, o filme só saiu para o público do DVD pela força que a série A Casa das Sete Mulheres teve na Globo e no resto do país.

A história acompanha duas guerras que o general Antônio de Souza Netto, participou, entre os anos de 1836-1866. Enquanto recupera-se de um grave ferimento na perna, recebe a visita de um antigo sargento com quem relembra as façanhas de guerra.

Os diretores Beto Souza e Tabajara Ruas dividem-se na direção do filme. Enquanto Beto cuida das partes técnicas, Tabajara se encarrega da adaptação do roteiro, baseado em seu romance de mesmo nome. Vemos como diverge a direção de cada um. Beto Souza é detalhista. Trabalha com uma bela fotografia, sabe fazer cenas grandiosas e belíssimas. Destaque para a cena da bandeira  que atravessa os dez anos de guerra que é de uma beleza poética muito forte. Assim como a bandeira foi destruindo-se, assim também a república rio-grandense perdeu seus objetivos e metas, depois de uma árdua guerra. Todos os prêmios e indicações foram bem merecidos.

Já a roteirização e os atores deixam muito a desejar. Apesar das grandes batalhas e cenas épicas, há também muitas partes desnecessárias no filme. A começar pela cena dos escravos no acampamento, que parece muito mais uma cena satírica, além do desinteressante e aquímico relacionamento do protagonista. Romance xoxo e sem sal, que acaba mal como começou. Claro, que quem colabora com esse monotonismo são os atores. Werner Schüneman é não mais do que um robô em cena, que decorou as falas de seu roteiro. Mesmo assim, as cenas finais dão um tom mais humano e menos duro para o general Netto. Outro desastre em cena, é o médico inglês do hospital, que chega a ser constrangedor de tão ruim. Um personagem importante, mal interpretado e mal utilizado. Por último, mas não menos importante, o interesse romântico do general que além de estranha, consegue usar um castelhano mais estranho que a própria personagem. 

Em compensação, outros personagens seguram bem em seu papéis. Mesmo que menores, é eles que levam o filme nas costas. Destaque para o sargento Teixeira, que guia Schüneman com habilidade pelas cenas. Destaque para o mirim que interpreta o escravo Milonga, também com boa interpretação, em certos pontos amedrontadora.

O resultado final do filme não é de todo ruim. Divertido e emocionante, lembra bastante do espírito gaúcho, sem ufanizá-lo demais. 

Eu os declaro marido e Larry - Ótimo uso para a palavra defenestração...


Cruzeiro das loucas parecia ter atingido um nível intocável de baixaria em um filme sobre homossexuais. A partir daquela experiência que acabou com a carreira de Cuba Gooding Jr., devíamos esperar que nenhum outro ator arriscasse uma empreitada tão delicada(sem duplo sentido) como essa. Perdão, havíamos esquecido Adam Sandler...

Além de escritor e produtor da maioria de seus filmes, Sandler sabe como fazer dinheiro. Como astro da comédia, sabe fazer dinheiro como poucos. Seus filmes normalmente envolvem piadas de gosto duvidoso, com flatulência, aspectos bizarros, etc. Mas, apesar de todo o lado negativo, ainda apresentam aspectos de qualidade, diferente da obra esquecível de Gooding Jr., ou dos recentes filmes de Eddie Murphy. Eu os declaro Marido e Larry não é diferente.

Na história, um bombeiro(Sandler) aceita casar com seu melhor amigo(Kevin James) para que seus filhos sejam beneficiários do seguro de vida.

O começo do filme pode sugerir uma abordagem mais inteligente do que seu infeliz antecessor. Pura bobagem. O filme traz novamente piadas sobre filmes gays, artigos homossexuais, frescuras, caricaturazições, músicas, um dos protagonistas que apaixona-se por uma amiga, ambos desenvolvendo consciência e aprendendo a aceitar as pessoas como elas são... tudo isso para ao final da película negar mesmo um beijo entre os protagonistas. Ou seja, o filme é mais homofóbico do que uma obra que tem esse fim. 

Como exemplo, peguemos Ricky Bobby, de Will Ferrell. O protagonista coloca-se contra seu antagonista homossexual durante toda a película, xingando e ridicularizando seu costume. Ao final do filme, ambos beijam-se. Ele prova assim, o quão idiota era seu preconceito durante toda a sessão. Já Sandler e James parecem encerrar o filme e seguir fazendo piadas discriminatórias.

O que podemos dizer à favor do filme é que pelo menos ele consegue ser muito superior ao filme de Cuba. A química entre Sandler e James é ótima e os convidados de sempre dos filmes do ator estão lá, impagáveis como sempre. Destaque para Rob Schneider, ótimo como padre chinês.

Mesmo assim, o filme só vale a pena como sessão de tela quente. Ou para jogar pela janela.

Os Excêntricos Tenenbaums - Comédia dramática é oásis em tempos de Disaster Movie


Gene Hackman, Ben Stiller, Owen e Luke Wilson, Gwyneth Paltrow, Danny Glover e Anjelica Houston. Com um elenco dessa força é difícil resistir aos Excêntricos Tenenbaums, comédia dramática(eu a nomeio dessa maneira) do diretor Wes Anderson. 

Os Tenenbauns são uma família genial e, ao mesmo tempo, desestruturada. Desde pequenos, cada filho se desenvolveu genialmente em uma área. Chass(Stiller) é um mestre nas finanças, que aos onze anos, negociava imóveis. Margot(Paltrow) escreveu sua primeira peça aos nove anos e Richie(Luke Wilson) é um artista nato e excelente jogador de tênis, campeão nacional por três anos consecutivos. Mas, a despeito de inúmeras traições, fracassos e tragédias, tornaram-se apenas sombras de seu passado. Tudo muda quando o pai, Royal Tenenbaum(Hackman), após abandonar a família por mais de duas décadas, é despejado do hotel onde mora e afirma que está perto da morte. É quando todos voltam a morar na casa da família, um pequeno castelo no centro de NY.

Wes Anderson é emérito de uma comédia sensível, que valoriza os personagens e não as situações. A comédia física é rara em seus filmes, mas cada ser humano ali representado marca profundamente o espectador. O diretor enquadra suas cenas, sempre centralizado no personagem em cena. Nos sentimos parte dos Tenenbaums, sofremos com eles e rimos também.

O elenco reforça essa sensação. Além dos já conhecidos Glover, Hackman e Houston, que estão incríveis em seus papéis, como sempre, Stiller, os Wilson e Paltrow são um destaque a parte. Como filhos que não tem a atenção do pai, cada um desenvolveu uma maneira de sanar essa dor. Mas, em um ponto, esses sentimentos de abandono intensificam-se de tal forma, que todos precisam voltar para casa. Tentar redescobrir o que são. Nessa busca, com as decepções encontradas, Luke Wilson protagoniza a melhor cena do filme, quando decide acabar com sua dor de uma forma drástica, que dá a virada final ao filme. 

Por mais estranha que seja essa viagem pelo mundo dos Tenenbaum, o seu final ainda consegue trazer esperança, embalado a uma trilha sonora singela, que dá todo o tom de nostalgia ao filme. Assim, como a saudade que sinto agora, lembrando dele.

O Nevoeiro - Suspense tem a marca de Stephen King


Coincidentemente, os últimos dois filmes que assisti no cinema, tratavam da mesma premissa: Uma situação incomum confina um certo número de pessoas, em um determinado lugar. Lá, os instintos básicos de sobrevivência, colocarão à prova o instinto civilizado e a humanidade dos participantes. O Nevoeiro, baseado em um conto de Stephen King, consegue mesclar o sobrenatural com o supernatural do homem, de maneira equilibrada e tecnicamente competente. 

Uma névoa cobre toda uma cidade obrigando alguns habitantes a refugiarem-se em um supermercado.  Quem tenta fugir, é devorado por estranhas criaturas que habitam o nevoeiro. Ali, os instintos mais primitivos de cada pessoa será testado ao seu limite.

Uma direção competente, que o experiente Frank Darabont(Um sonho de Liberdade, À Espera de um milagre) sabe administrar. A câmera parece sempre escondida em alguma prateleira, seguindo sorrateiramente os protagonistas, ajustando-se, procurando o melhor foco. Esse experimento dá uma sensação de claustrofobia e perseguição. O nevoeiro nas janelas do mercado aumenta esta sensação, e o crescente clima de tensão leva-nos até o último minuto de exibição. O único pecado talvez sejam os efeitos especiais, bastante ultrapassados para olhos exigentes. Claro que como essa não era a proposta do filme(mais um terror com ótimos efeitos, mas sem cérebro) não fez tanta falta. E nesse caso, o uso de maquiagem teve mais uma vez ponto alto. Os pedaços das pessoas, inchaços e envenenamentos são muito bem retratados. Isso é algo que desde o começo fica claro, quando na primeira cena, vemos um pôster do filme Enigma De Outro Mundo, terror psicológico excepcional dos anos 80. 

Como neste filme, O Nevoeiro tem seu foco nas relações pessoais. Desenvolve muito bem o fanatismo e o medo que crescem em situações sem regras ou controle. Mas, em uma semana onde temos Blindness em cartaz, o filme passa como uma boa escolha para quem mais do que tomar alguns sustos no cinema. Aliás, o final do filme é bem estilo de Stephen King...nem por isso, deixa de ser aterrador.

Mais uma coisa: a censura 14 anos atrapalha(e muito) a ida ao cinema. Principalmente, quando pirralhos não calam a boca ao seu lado, no cinema. 

O Silêncio dos Inocentes - Clássico do suspense por R$13,90


Já faz muito tempo que Anthony Hopkins foi um jovem rapaz. Mesmo em um filme de 16 anos atrás, ele já era idoso. E Jodie Foster era uma garotinha. Foi assim que surgiu um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos. Ganhador de cinco Oscar, o filme é o terceiro na história da competição a ganhar nas cinco categorias principais da premiação(ator, atriz, roteiro, diretor e filme). Não é por menos que o tinhoso Hannibal Lecter é considerado até hoje, um dos mais cruéis vilões do cinema.

Na história, a cadete do FBI, Clarice recebe a missão de convencer o psicótico canibal, Hannibal Lecter, preso em um hospício a auxiliar nas investigações de um serial killer que sequestrou a filha de uma senadora. Lidar com ele, no entanto, mostra-se mais difícil e perigoso quando o criminoso começa a jogar com a mente de Clarice.

A atuação de Hopkins é genial. Em usa melhor forma, em todos os tempos, ele cria um personagem desenvergonhadamente frio, calculista e poderoso. Suas palavras, mesmo quando sussurradas, são fortes e certeiras. Sabem mexer com os outros personagens e manipulá-los conforme a sua vontade. Isso acontece não apenas com a protagonista, mas com seus companheiros de hospícios e mesmo seus antigos pacientes, que eram transformados de depressivos em assassinos psicóticos. Sem demonstrar culpa ou arrependimento, Hannibal joga com Clarice um perigoso jogo intelectual que irá exigir toda a capacidade da jovem. 

Nesse ponto, Jodie Foster poderia ser simplesmente apagada do filme, certo? Errado. Como sua própria personagem, a atriz sabe dar vida e poder a Clarice. Comedida, sem exageros, ela sabe quando falar, quando ficar quieta e como jogar com seu oponente. Chega ao ponto de enganá-lo em certa parte do filme. Seu ápice é a cena final, onde o assassino a persegue em meio ao breu total com um visor noturno. A cena é perturbadora, claustrofóbica e desesperada. Foster mostra uma Clarice inexperiente, como a personagem realmente é. Anos na academia não a prepararam para um momento assim. Sem dúvida uma das cenas mais angustiantes do cinema.

A direção de Jonathan Demme é comedida e simples. O filme transcorre com um bom ritmo, sem desmanchar a tensão ou se apegar em clichês desnecessários. Amparado por um ótimo roteiro, o diretor preocupa-se em unicamente mostrar a história, sem grandes experimentalismos e inovações, mas trabalhando o horror e os personagens de forma coerente.

Um clássico indispensável em qualquer coleção está à venda por apenas R$13,90 na cinemateca da revista Veja. Não é jabá, é dica mesmo. 

Ensaio Sobre A Cegueira - Diretor consegue manter o caráter alegórico da obra


Selecionado para abertura oficial do Festival de Cannes, Ensaio sobre a Cegueira já tivera um início polêmico. Adaptar uma obra de Saramago, ganhador do Nobel, não era tarefa para qualquer um. O diretor Fernando Meirelles conversou com o escritor durante muito tempo, até que ele aceitasse a proposta do filme. No entanto, Saramago exigiu apenas um detalhe: que o lugar onde os eventos transcorressem não fossem identificados no filme.

Isso tudo para que a história não perdesse seu caráter alegórico. Publiquei algum tempo atrás a resenha do livro original(confira aqui), onde deixei bem claro o quanto o autor considera sua obra uma metáfora da humanidade e dos sistemas políticos. O traço mais importante do filme é manter esta característica durante toda a projeção da película. Para quem não sabe, o filme conta sobre uma epidemia de cegueira branca que instala-se em um determinado país. Rapidamente a situação torna-se caótica, obrigando as autoridades a encerrarem os contaminados em um hospício abandonado. É nesse lugar onde apenas uma pessoa enxerga, que o narrador desenvolve sua história da decadência da humanidade.

Fernando Meirelles é um diretor preocupado com a estética de seu filme. Desde os primeiros takes, o diretor utiliza a câmera para desorientar o espectador através de desfoques e jogo de fotografia. O branco estourado seguido pelo breu total, as cores frias e sem vida. Tudo colabora para manter o clima imprevisível e caótico do filme. A direção de fotografia é do talentoso César Charlone, diretor de O Banheiro do Papa e que já trabalhou com Meirelles em O Jardineiro Fiel. É perturbador ver o branco da cegueira, lentamente transformar-se no sujo e escuro que o hospício torna-se. Uma história contada pelos filtros e luzes utilizados na fotografia do filme.

A direção de atores também não desagrada. Juliane Moore faz muito bem o papel da mulher do médico, uma mera espectadora neste circo de horrores. Mark Ruffalo demonstra os últimos resquícios de civilização no caos que aos poucos cessa de existir. A cena do médico com a rapariga dos óculos escuros sela o final dessa tentativa de uma forma poética e brutal, ao mesmo tempo. O mesmo pode dizer-se das cenas na camarata 3. Gael Garcia Bernal, que normalmente faz papéis de bom moço, é um grandisíssimo filho da puta, no papel de rei da ala 3. Ponto para o ator. A única falha do elenco( e nessa mesmo o autor concorda comigo) é o cão das lágrimas. Eu imaginava um pastor alemão e não um animal tão pequeno.

A adaptação é muito fiel e homenageia a obra de Saramago. Destaque para a cena em que Gael canta Stevie Wonder. Um dos poucos momentos em que a tensão do filme é aliviada. A trilha sonora ajuda a construir o clima de metáfora e imprevisibilidade do filme. Irritante, a edição de som se mescla com a trilha, causando um frio na barriga que percorre toda a projeção. Com exceção de poucas passagens cortadas do livro, o filme manteve-se inteiramente fiel à obra original.

Fernando Meirelles constrói com Ensaio sobre a Cegueira, seu melhor filme até o momento.

O Grande Truque - O prenúncio de que Dark Knight seria o que foi


"Um truque é dividido em três partes. A primeira é a promessa: Nessa etapa, o mágico mostra ao público algo comum. A segunda parte é a virada: nessa etapa, algo extraordinário acontece. Mas, o público ainda não aplaude. A terceira parte é o Grande Truque: nela, algo imprevisível acontece. É quando o público fica sem palavras e não consegue explicar. É quando eles notam que foram enganados o tempo todo." Assim começa o Grande Truque, filme do diretor Cristopher Nolan.

Nele, dois mágicos do final do século XIX, disputam uma guerra particular, cada um preso em seus próprios segredos e obsessões.

Hugh Jackman, Cristhian Bale, Michael Caine e Scarllet Johanson são os destaques do elenco. Aliás, nota-se a preferência do diretor por Bale e Caine. Lembra muito as duplas Burton-Deep, Toro-Perlman. Mas, é em Jackman e Bale que o roteiro e o diretor concentram-se. E os dois não decepcionam. 

Considero Bale um dos mais competentes atores no mercado e seu duelo com Jackman é memorável. O espectador fica sem saber em quem confiar, por qual deles torcer. Não sabemos quem é o verdadeiro protagonista do filme, porque ambos estão ótimos nos respectivos papéis. A obsessão de Angier(Jackman) é notável nos pequenos detalhes que o ator entrega. Assim como Borden(Bale) parece ter complexos bipolares durante toda a película.

Essa bipolaridade é graças ao roteiro escrito por Nolan e seu irmão Jonathan. É incrível como a história se desenrola, seguindo os passos escritos no início desta resenha. Quando chegamos ao final, estamos tão absortos na história que o final surpreende completamente o espectador, mesmo aquele que como eu já assistiu ao filme. O Grande Truque do filme é arrebatador e surpreendente. 

A direção do filme sabe como utilizar o roteiro, completando assim o círculo perfeito. Direção de arte fenomenal, figurinos belíssimos. Atuações competentes. A preferência de Bale em não usar CG é outro ponto positivo. As poucas cenas que utilizam as técnicas não somam 5 minutos de película. Isso tudo, faz de O Grande Truque um filme bom como poucos. E que nos faz pensar, acima de tudo.

Como disse no título, O Grande Truque mostrou a competência de Nolan, um prenúncio para sua obra-prima, o Cavaleiro das Trevas.

Hellboy II : O Exército Dourado - Show para os olhos e para o cérebro


Desde o Labirinto do Fauno, Guillermo del Toro tem redescoberto o incrível e fascinante mundo da maquiagem no cinema. As criaturas que povoavam a imaginação da protagonista desse longa, foram destaque e renderam ao cineasta o prêmio por melhor maquiagem e figurino no Oscar de 2006. Poucos lembram que o diretor já tivera a oportunidade e a utilizara bem no seu filme anterior, o primeir Hellboy. Ron Perlman submeteu-se a horas de maquiagem para tornar-se o garoto do inferno. O que vemos em sua continuação, é algo muito distante do universo que o escritor Mike Mignola criou: a maior parte dos elementos saiu da perturbada mente do diretor del Toro.

Nessa segunda aventura do anti-herói Hellboy, o reino dos seres fantásticos está em plena guerra contra a humanidade. O Príncipe Nuala (Luke Goss) é quem comanda seu exército dourado formado por criaturas rebeldes para vencer a batalha, mas Hellboy (Ron Perlman) e seus aliados fazem de tudo para defender o planeta.

É impossível não notar como o protagonista está bem desenvolvido no personagem. Hellboy, ou Vermelhão, está mais confiante, mais engraçado e muito mais profundo do que no primeiro longa. Abe Sapiem, o sensitivo interpretado pelo mímico Doug Jones, é imensamente expressivo, mesmo sem sombrancelhas, ou expressões faciais, como o próprio personagem nos lembra. Além deles, destaque para o Príncipe Nuada(Luke Goss) que faz um vilão politicamente correto(gente, ele quer salvar o mundo de um apocalipse ambiental!), mas nem por isso, menos questionador. 

E então entra a parte visual do filme. Quer uma criatura mais bizarra do que o homem-catedral-na-cabeça ou o anjo da morte? Vá para o mercado de Trolls, onde um tumor pode ser muito bem confundido com um bebê. O excelente trabalho de confecção dos personagens pode sim, render alguma indicação, quiçá um Oscar para o filme...

A direção de Del Toro é novamente competente, sem experimentalismos, com sua câmera firme e precisa. O filme ganha pontos com a ação bem bolada do filme. Lutas muito bem coreografadas, destaque para a luta com o gigante da floresta. O final lembra um pouco as HQs, e promete surpresas caso o diretor consiga o financiamento para um terceiro filme. Agora, é esperar pra ver...

Ainda Orangotangos - Viagem frenética por uma porto muito estranha


Lembro que no durante nossa cobertura no Festival de Gramado, via sempre as propagandas do tal Ainda Orangotangos. Mas, não fazia idéia do que aquele filme tratava ou sequer qualquer coisa a respeito dele. Na sexta-feira passada, sentei calmamente em um sofá para ler as estréias da semana e lá estava o tal do orangotango de volta. Aí então compreendi: o primeiro plano-sequência brasileiro, era gaúcho e muito elogiado.

O trabalho do diretor Gustavo Spolidoro foi mesmo muito complexo. O filme conta a história de várias pessoas, passando o dia mais quente do ano, na cidade de Porto Alegre. A ação de 81 minutos, mostra 14 horas desse dia, enfocando vários personagens em situações peculiares ou não.

Sem cortes, o filme é de uma primazia técnica única. O roteiro pega boa parte da cidade em seu percurso, desde o metrô, passando pelo Mercado Público e terminando na redenção. Essa viagem frenética é retratada, dividindo a comédia e o drama. A cooperação da guarda de trânsito foi fundamental nas três tentativas de gravação do longa e o ensaio teve que ser preciso para cada um dos atores. Um resultado excelente nas telas. E a companhia é fundamental ao final da sessão!

Mandando Bala - Ação desenfreada e descerebrada


Nem só de filmes cabeça vive o homem. Volta e meia você quer desestressar e olhar um filme que alimente os olhos e não a alma. E é para isso que filmes como Mandando Bala são feitos.

A premissa do filme deixa isso bem claro. Um tal Sr. Smith está sentado comendo sua cenoura, quando alguns caras armados perseguem uma mulher grávida. O Sr. Smith não gosta e vai ajudar ela. Aí começa a correria, tiroteios e chavões clássicos de todos os filmes de ação. 

O filme é uma crítica brutal a esse cinema pipocão, mas não deixa de ser divertido. Frases de efeito, conspirações que vão até a casa Branca e muita ação preenchem o filme de maneira perfeita. Com timming para as piadas e três atores excelentes(Clive Owen, Paul Giammati e Monica Bellucci), o filme é divertido e tem um belo visual. Muitos filtros e tomadas bem feitas.

Pacote bem feito, embrulhadinho e pronto pra ser digerido. Logo depois, esquecido. 

Contraponto - A loucura de Terry Gilliam potencializada ao extremo


Contraponto é um filme diferente daquilo que você já viu. Terry Gilliam, diretor da melhor série de comédia de todos os tempos, Monty Python e de outros filmes malucos, como Brazil e Os Doze Macacos, consegue superar-se na psicodelia do romance de Mitch Cullin. 

Na história, Jeliza-Rose, uma menina de 9 anos, costuma fugir da realidade cruel de sua vida para dentro de sua imaginação. Nas jornadas por esse estranho universo criado por ela, a menina é acompanhada por quatro cabeças de boneca presas aos seus dedos e um deficiente mental chamado Dickens.  

Terry Gilliam tem uma característica artística expressionista muito forte. Isso é passado para as telas de uma forma visceral nas tomadas de câmera, movimentação, cores berrantes, tamanhos desproporcionais, ângulos e cenários estranhos. É perturbador ver o desenrolar da história na mão calma e severa do diretor. Se o visual do filme não fosse suficiente, é mais estranho ainda ver a complexidade dos textos e o talento da pequena Jodelle Ferland que segura suas falas de maneira incrivelmente competente. 

Aliás, todos os atores são excelentes. Jeff Bridges, no pouco tempo que aparece é competente e sua presença, mesmo que apenas na primeira meia-hora do filme, marca toda a película. Jennifer Tilly e Brendan Fletcher são ótimos, mas o talento de Jodelle ofusca qualquer outra aparição. As diferentes personalidades que a garota manifesta, nas fantasias de suas bonecas, aliada a profundidade da interpretação e às falas verborrágicas que o roteiro impõe, fazem dela uma proeminente atriz. 

Roteiro que é uma aula pra tantos. Começando pelas inocente leitura de Alice no País das Maravilhas, ele vai dando pequenas dicas do que está acontecendo com a menina e seu mundo. Sua vida, cada vez mais imaginativa e menos real. Os personagens de sua vida, cada vez mais alterados pelo seu estado, esquilos falam. Em certo ponto da película, a garota simplesmente ouve as vozes das bonecas em sua cabeça e nem mesmo mexe a boca para falar. Isso pode passar despercebido para algum espectador pouco atento. Outro ponto interessante, são as roupas da menina, que vão tornando-se mais e mais insanas, conforme ela vai transformando-se neste novo ser.

Um filme forte, quase um pesadelo, sobre a solidão e a imaginação.

O Show de Truman - O Show da vida


Há exatos 10 anos atrás, Jim Carrey em seu auge como astro da comédia, aceitou um papel totalmente diferente daquilo que ele fizer até então: Truman Burbank, um homem que tem sua vida televisionada desde o momento em que nasceu. Sem saber disso.

Se pensássemos nisso na época em que o filme foi lançado, pareceria um tanto absurdo. Ter a privacidade invadida, ser monitorado 24 horas por dia e no caso do filme, nem ao menos saber disso, é monstruoso, senão, desumano. Truman vive sua vida, sufocado, sem possibilidade de mudar sua rotina. Casado com uma mulher bonita e prestativa, com amigos fiéis, uma mãe sempre presente, bom emprego, bom carro, boa casa. Nada é espontâneo, nada é imprevisível. Nada pe vivo. Tudo é milimetricamente programado, desenhado e ensaiado. O personagem que não sabe ser um personagem, não dúvida, não questiona. Sua vida é modelada de tal forma, que desejos como viajar ou sair de seu lugar natal, inspirem medo e desconfiança. Para isso, o diretor do maior Reality show do mundo(em atuação brilhante de Ed Harris) não poupa esforços em criar traumas e barreiras na vida de Truman. Mas, nem tudo é controlável.

Quando jovem, Truman se apaixona por Sylvia, uma garota misteriosa, que estava fora dos planos dos diretores. Ela instiga Truman a deixar de lado o conforto de sua vida, a facilidade que parecia-lhe tão aconchegante e ir em busca dela. Uma dúvida que começa a ser alimentada por pequenas falhas técnicas em seu mundo artificial. Um refletor que cai do céu, um elevador com fundo falso, atitudes estranhas das pessoas. Tudo começa a confundir ainda mais o protagonista e torná-lo aquilo que seus manipuladores mais temiam: incontrolável, imprevisível.

A história de Truman vai muito além de um reality show. Ele é um retrato do próprio Jim Carrey e de cada um de nós. Ninguém imaginava que ele poderia sair de um mundo seguro, com garantia de sucesso como a comédia e enveredar pelo drama. Carrey mostrou que era capaz de passar uma outra imagem, sendo algo diferente de tudo que havia feito. Nós mesmos somos assim: temos medo de tentar o desconhecido. Somos temerosos quanto ao nosso futuro, quanto ao desconhecido. E por temermos ele, muitas vezes não alcançamos tudo aquilo que poderíamos ser. Abandonar um mundo fácil e limitador, ou se arriscar em um mundo selvagem, mas instigador?

Reino Proibido - Chan e Li tem boa química na telona



Reino Proibido não era a minha primeira escolha em uma noite de sexta-feira. Trovão Tropical era o favorito. Se estreasse. Como não aconteceu, restou assistir a aventura que une Jet Li e Jackie Chan pela primeira vez no cinema.

E não é que tive uma agradável surpresa? A história é bem batida, mas o filme é bem estruturado. Lembra muito os filmes de aventura dos anos 80, como Os aventureiros do Bairro Chinês. Um adolescente, fã de filmes de kung fu, acha um bastão em um antiquário, que leva-o para o Reino Proibido. Lá, ele se une a um monge, um bêbado e uma órfã para libertar o Rei Macaco, derrotar o guerreiro de Jade e restaurar a ordem na montanha dos 5 elementos.

As cenas de luta são muito bem coreografadas(sim, é o cara de Matrix), os chineses voam, o timming da comédia é bom, os efeitos são legais. Eu que não gosto muito de Chan, gostei bastante do trabalho dele e Jet Li, apesar de parecer um imbecil como o rei macaco, não decepciona também. As lutas que o seu personagem realiza são as melhores, destaque para a primeira luta do Rei Macaco com o guerreiro de Jade. Personagens engraçados e situações divertidas pontuam o filme. Quando ele ameaça ficar um pouco sério, é só virar para o lado e conversar com a companhia. Você não perde nada de importante, pode ter certeza. Apesar do final previsível, um balde de pipoca e uma coca-cola bem gelada ajudam a melhorar a experiência do filme.