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Contra o Tempo - Duncan Jones relembra clássicos da viagem no tempo em 8 minutos


Contra o Tempo - Duncan Jones relembra clássicos da viagem no tempo em 8 minutos

NOTA: 7,5 / 10

Source Code

EUA , 2011 - 93 min.

Ficção científica

Direção:

Duncan Jones

Roteiro:

Ben Ripley

Elenco:

Jake Gyllenhaal, Michelle Monaghan, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Brent Skagford, Cas Anvar


Jake Gyllenhaal começou sua carreira no cinema com um dos melhores filmes de ficção científica da década passada. Donnie Darko misturava todas as teorias da física sobre mundos paralelos, viagens no tempo e complexo de super-herói de forma coesa, dramática e estilosa, bem ao estilo anos 80 (temporada dos melhores filmes de loopings temporais). Foram dez anos de crescimento que o levaram há uma indicação ao Oscar no papel polêmico em Brockeback Mountain e empreitadas no cinema blockbuster como em Príncipe da Pérsia. Exatos dez anos depois, ele volta ao cinema, novamente com um diretor novato para assumir seu papel como super-herói em um mundo modficado pelo crescente terrorismo e a necessidade de um messias. Mas, diferente de Darko, seu personagem não pretende de forma alguma se sacrificar pela humanidade.

Na trama, um programa do governo permite, que uma pessoa com compatibilidades genéticas, possa retornar 8 minutos na lembrança de um professor que estava presente em um trem atacado por terroristas. Ali, o capitão Colter Stevens terá que descobrir quem perpetou o atentado antes que outros ataques aconteçam.

Dirigido pelo filho de David Bowie, Duncan Jones, o filme deixa o espectador tenso com suas idas e vindas no tempo. O clima imposto por Jones lembra um pouco a ânsia do desconhecido que acompanhou Lunar, primeiro projeto do diretor. Mas Contra o Tempo logo começa a ampliar seu horizonte, e nesse crescimento, perde seu ritmo. As experimentações de imagem e a forma como o Jones sabe utilizar seus efeitos no momentos certo e com um orçamento tão apertado são os grandes truques do filme. As sequências de explosão que se sucedem quase interminavelmente durante a projeção são inventivas e de cair o queixo. Da mesma forma, o elenco está preparado e consegue segurar a visão do espectador para possíveis problemas estruturais. Problemas que serão repensados ao final da sessão quando algumas pontas ficarão totalmente soltas.

É a partir da metade da história que as coisas ficam confusas. O que antes tomava forma de Feitiço do Tempo, maior comparação que o filme sofre nos primeiros momentos, logo se transforma em uma trama com cara de Fringe. Sai a teoria das lembranças e nos deparamos com o sensível terreno de mundos paralelos. Nesse ponto começam a aparecer erros estranhos na lógica da viagem temporal. O protagonista nota pequenos erros na continuidade do universo, mas que ficam imperceptíveis ao espectador. Não bastasse o capitão explicando o que estava acontecendo toda santa vez que algo diferente acontecia, ainda temos a voz do criador do source code para nos relembrar mais uma vez que mundos paralelos não interferem em uma realidade e, assim, nada pode ser alterado para salvar as vítimas no trem. Depois de tantas idas e voltas para emiuçar bem ao espectador o que está acontecendo, o clímax acaba por se tornar um momento bem fraco, que por sinal, poderia encerrar o filme com certa dignidade. Mas, temos mais 5 minutos de explicações para ficar tudo bem esclarecido e sem quaisquer dúvidas do que aconteceu com todos os presentes.

Então porque na saída do cinema, tanta coisa permaneceu mal explicada para os espectadores? Uma simples reflexão acaba por derrubar muito do conceito estabelecido na história de Contra o tempo. As preocupações estabelecidas para o complexo mundo de Donnie Darko são deixadas de lado pelo momento, a síntese do filme que nos ensina novamente a aproveitar cada dia como se fosse o último e pensar menos na nossa relevância para a vida dos outros. Se comparamos ainda com De Volta para o Futuro, onde pelo menos Marty McFly não tinha escrúpulos que não os seus próprios para alterar o passado, vemos que na verdade, de todos os personagens, Colter Stevens é o mais imoral, ao simplesmente drenar a vida de outro ser em favor da felicidade eterna.

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 - Que sera sera, whatever will be will be

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 - Que sera sera, whatever will be will be

NOTA: 8 / 10

Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2
Reino Unido/EUA , 2011 - 130 min.
Aventura / Fantasia

Direção:
David Yates

Roteiro:
Steve Kloves

Elenco:
Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Alan Rickman,

Foram anos de espera. Acompanho a série desde o longíquo 2001 quando uma professora me emprestou A Pedra Filosofal e me deixou fascinado. Cresci acompanhando as aventuras do jovem Harry Potter, seus amigos Rony e Hermione, as aulas de Hogwarts, o quadribol, as reviravoltas, mortes e surpresas de cada volume. Ao mesmo tempo, o cinema sempre conseguia deixar de fora uma ou outra parte que deixava meu lado fanático um pouco decepcionado. David Yates foi o diretor que achou o tom certo da série e desde A Ordem da Fênix, conseguiu melhorar o universo dos livros nas telonas. Foi mais ou menos na época do quinto filme que As Relíquias da Morte foi lançado e, enfim, encerrou a saga do bruxo. Para minha surpresa, o livro foi de longe um dos mais fracos de J.K. Rowling. E apesar da eficiência de Yates na primeira parte, o segundo longa acabou por sofrer justamente por seu apego à obra original.

No último filme da série, Harry deve encontrar as horcruxes restantes para finalmente derrotar Lord Voldemort.

A tensão dos minutos iniciais do filme prenuncia a carnificina que acontecerá em poucos instantes. Cada momento em que o trio (Harry, Hermione, Rony) aparece, nos lembra que essa é a última vez que veremos cada um desses personagens. A conversa com Grampo (o duende interpretado pelo anão Warwick Davis) dura um bom tempo e lembra (como não dizer) a negociação do Coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios. Yates pesa a mão de tal forma que mesmo o humor da cena acaba abafado pela tensão na sala de cinema. Dali para Gringotes o filme flui muito bem, com ótimos efeitos, bela fotografia (destaque para Harry no lago) e a fuga mais exuberante dos últimos tempos no cinema. Pena que basta chegar a Hogwarts para tudo isso se exaurir em um turbilhão de acontecimentos que mais lembram uma descida de montanha-russa sem emoção.

Toda a sutileza do primeiro ato vai pro espaço, bem como na cena em Harry e seus amigos tomam Hogwarts. E a partir daí, sobram cenas de Hogwarts sendo destruída e a massivamente divulgada guerra entre bruxos. O grande problema dessa guerra, é que só é mostrada pelo lado de personagens terciários que pouco aparecem nos filmes. Dos personagens conhecidos, pouco vemos. Seja de Lupin, os Weasley e mesmo Neville que tem uma participação bem maior nesse último momento, todos reunidos devem somar no máximo 2 minutos do filme. Sobram, no entanto, cenas aéreas impressionantes e piromania descontrolada.

Fora esse fator, o que falta nessa segunda parte é emoção. Vemos os cadáveres conhecidos e empilhados por algum tempo e é isso. Tanto que mesmo no epílogo, a cena que deveria ser a mais emotiva das 8 partes, temos um momento bastante insosso e um final bem sem graça.

Nem tudo são falhas. As batalhas são magistrais, a trilha sonora está afiada, as atuações estão convincentes e emocionadas. Até os diálogos tem relevância. O filme sofre é com o material original mesmo, que não oferece uma maior profundidade ou sequer aproveita ganchos e boas ideias plantadas durante toda a série. Emociona? É claro que sim. Crescemos acompanhando esses personagens. Querendo ou não isso iria acontecer.

Mas não foi a experiência tão marcante para o fim de uma geração que voltou a se apaixonar pela magia.

Kung Fu Panda 2 - A metáfora do renascimento da Dreamworks



NOTA: 10 / 10

Kung Fu Panda 2
EUA , 2011 - 91 min.
Ação / Animação / Comédia

Direção:
Jennifer Yuh

Roteiro:
Jonathan Aibel, Glenn Berger

Elenco:
Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Lucy Liu, David Cross, Jackie Chan, Seth Rogen, Gary Oldman, James Hong, Michelle Yeoh, Danny McBride, Jean-Claude Van Damme

Em 2008, comentei no blog sobre a imensa diferença que existia entre os estúdios Pixar e a Dreamworks Animations, os maiores rivais no ramo do cinema de animação, ambos em um período decisivo de sua história. A Dreamworks combinava o bom humor de suas produções com um alto faturamento, mas ao mesmo tempo, sem pretensão de extrapolar o óbvio, beirava a repetição e a mesmice, tentando angariar popularidade com elementos que a consagraram , principalmente através de Shrek. Kung Fu Panda era a essência dessa fase, com muito visual, bom humor, mas sem um algo há mais que o diferenciasse. Por outro lado, a Pixar atingia seu pico com a produção de Wall-E, uma animação rebuscada tecnologicamente, narrativamente inovadora, e capaz de emocionar com protagonistas que sequer dialogavam. O 3º Oscar consecutivo da Pixar e os consequentes insucessos da Dreamworks mostraram que o caminho certo a ser seguido era o traçado por John Lasseter e sua equipe, tanto que a hegemonia da empresa se consolidou em seu 6º Oscar e no bilhão de dólares conquistado por Toy Story 3. Então, veio 2011.


Kung Fu Panda 2 mostra Po, o dragão-guerreiro, prestes a enfrentar um inimigo maior que o kung fu: a arma de fogo.

Do começo até o fim, o filme arranca suspiros de admiração, risadas e até mesmo emoção e empatia. O visual totalmente experimental aplicado na produção, misturando uma interação perfeita da computação gráfica com a animação tradicional, não só impressiona, mas consegue transcender a ideia de estética e linguagem do cinema de animação. Não é exagero comparar a inovação da utilização das mais importantes técnicas de animação em todos os meios, com a revolução trazida por Toy Story em 1995. Mais do que isso, a direção competente de Jennifer Yuh, uma artista que sabe utilizar a arte em favor da narrativa e não como um elemento separado e dispensável, fez com que a utilização de cores durante as lutas exemplarmente coreografadas, servissem como apoio para realçar delicadamente o estado de espírito de cada personagem.

E tudo isso com um inteligente toque oriental.

O desequilíbrio de Po, representado durante todo o filme pelos Ying-Yangs espalhados pelas cenas, o ódio objetivista do vilão Shen e sua tragédia quase edipiana em busca da paz de espírito, tudo, refletido nos cenários, na iluminação, interna e externamente, prevendo cada ato dos personagens e tornando a viagem tão mais profunda e exuberante. A sutileza desses detalhes também se espelha nos movimentos cuidadosamente pensados e mesmo uma fração de segundo, apenas um frame, pode redimir a mais perversa das almas (ou seria simplesmente a aceitação do inevitável e a compreensão do todo?).

Se o visual é capaz de inspirar tanta emoção e verborragia, os diálogos servem para levar a história de um ponto a outro sem pesar a carga filosófica. Po está mais afiado do que nunca e o carisma do protagonista rende boas risadas. Além do mais, depois do sucesso de Como Treinar o Seu Dragão, a Dreamworks parece lentamente se adequar aos dramas dos personagens, sem precisar desmoronar uma bela cena com uma piadinha fuleira qualquer.

Pouco a pouco, galgando seu lugar passo-a-passo, a empresa parece encontrar o seu rumo, sem copiar sua rival, produzindo grandes filmes com peso artístico, narrativo e, felizmente, original. Assim como Po, a Dreamworks deixa de ser apenas uma caixa registradora do cinema e volta ao ringue com um kung fu aprimorado, pronta para mostrar quem ela é.




Thor - Marvel e o novo universo do cinema

Thor - Marvel e o novo universo do cinema

Thor

NOTA: 7 / 10

EUA , 2011 - 114 min.
Aventura / Épico

Direção:
Kenneth Branagh

Roteiro:
J. Michael Straczynski, Mark Protosevich

Elenco:
Natalie Portman, Chris Hemsworth, Anthony Hopkins, Ray Stevenson, Kat Dennings, Stellan Skarsgård, Idris Elba, Tom Hiddleston, Rene Russo, Jaimie Alexander, Colm Feore , Clark Gregg, Tadanobu Asano, Jeremy Renner


Não pude deixar de ter um mau pressentimento quando a cena de abertura de Thor mostra um grupo de cientistas na Terra, em busca de um tornado no meio de um deserto. É o típico começo de uma história em quadrinhos da Marvel, mas que na empolgação dos trailers e na espera do início do filme parece quebrar o ritmo, ao invés de preparar o terreno para o Deus do Trovão. Não é à toa que os momentos do filme que se passam longe de Asgard poderiam ter sido simplesmente cortados de toda a trama sem problema algum, evitando assim os lugares-comuns dos filmes de aventura e os bocejos, ou como gosto de chamar "momentos de ir no banheiro", quando nada de relevante parece acontecer. Acontece que apesar desse problema, a Marvel utiliza o filme apenas como mais uma peça do mosaico que vem criando desde Homem-de-Ferro e ao contemplar a obra completa, parece não ser tão deslocado assim.

A história mostra o filho de Odin, Thor, sendo exilado de Asgard após um ato impetuoso. Agora, ele precisa mostrar-se digno de empunhar o Mjolnir e salvar o universo de seu irmão Loki.

Kenneth Branagh pareceu ser o nome ideal para dirigir o filme do deus do Trovão, visto sua grande experiência em adaptar Shakespeare e seu inglês pomposo de forma visualmente teatral mas interessante. No entanto, não é isso o que se vê em Thor. Tão pouco o visual, que em Asgard é de tirar o fôlego, mas na Terra parte para planos inclinados estranhos e desnecessários, praticamente retirados daquela bomba da década passada, A Reconquista. Não basta apenas uma vez, mas durante todo o filme repete-se o efeito, quase vertiginoso em 3D. 3D esse que serve apenas para aumentar a arrecadação, já que não contribui em nada para a história, apenas confunde as cenas de ação e escurece irritantemente a tela. Ao menos, as mesmas batalhas conseguem empolgar com elementos que nos fazem esquecer os momentos desnecessários passados em Midgard.

O elenco encaixou como luva em cada papel, tanto visualmente quanto psicologicamente. Enquanto Anthony Hopkins rouba a cena como o poderoso Odin, Thor (Chris Hemsworth) é turrão, musculoso e engraçado, bem como nos quadrinhos. Seus asseclas de Asgard aparecem pouco mas tem relevância, perdendo espaço para Tom Hiddleston, que faz um Loki confuso e obstinado, capaz de se mostrar uma grande ameaça nos próximos filmes da empresa. Já Natalie Portman e o elenco da Terra (excetuando Jeremy Renner (em participação especial)) parecem ligados no automático, recitando frases prontas e servindo de ligação com o grande público.

Graças, é claro, ao roteiro amarrado e cheio de momentos desnecessários escrito por J. Michael Strackzyinsky e Mark Protosevich. O primeiro, conhecido por sua carreia nos quadrinhos, "cometeu" uma das piores fases do Homem-Aranha em anos, findado pela expressão (que pode muito bem se aplica a Thor) "É Magia, não precisa explicação". São diálogos e sentimentos forçados goela abaixo e um Thor que muda da água pro vinho em, literalmente, uma noite. Não dá pra engolir que o mimado e orgulhoso filho de Odin se apaixone pela humanidade e pela personagem de Natalie Portman em pouco mais de 48 horas (se bem que todos nos apaixonamos pela atriz em menos de 1h30...). A incoerência desse ato quase apela para o clássico final da lágrima que ressuscita, que, por sinal, ninguém aguenta mais.

Não fosse pela totalidade da obra e, novamente, pela cena escondida nos pós-créditos, Thor poderia muito bem passar desapercebido como um filme divertido, visualmente eficiente, mas ainda assim, abaixo da média. O grande trunfo da Marvel está em ligar seu projetos formando assim uma cronologia totalmente nova e invejável nos cinemas, coisas que a rival, DC Comics, mostra-se arredia e, praticamente, desistiu de tentar criar. Ainda assim, os filmes da Distinta Concorrência, podem firmar-se muito mais como obras solo, como é o caso da ótima franquia restaurada por Nolan de Batman e a aposta em uma retomada de Superman, comandado por Zack Snyder e com a mão dos Nolan no roteiro.

Assim como nos quadrinhos, as empresas disputam o concorrido mercado, uma sempre apostando na quantidade, e outra, na qualidade.

O Vencedor - David O. Russell apresenta o filme mais sincero da temporada de premiações

O Vencedor - David O. Russell apresenta o filme mais sincero da temporada de premiações

NOTA: 9,5 / 10

The Fighter
EUA , 2010 - 115 minutos
Drama

Direção:
David O. Russell

Roteiro:
Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson, Keith Dorrington

Elenco:
Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo, Mickey O'Keefe, Jack McGee

O diretor de Três Reis e I s2 Huckabees, apresenta um filme extremamente diferente de todos os seus concorrentes ao Oscar. O Vencedor trata da história real de um lutador, que vive à sombra de seu irmão, um ex-campeão viciado em crack. Depois de perder por anos, Mick tem a chance de finalmente virar a mesa, mas a constante interferência de sua família prova ser seu maior sabotador. Em meio a tudo isso, ele terá que enfrentá-los e nunca desistir sem conquistar seu objetivo.

E difícil descrever o que chama tanta a atenção de O Vencedor. Parece uma simples história de boxe que já vimos tantas vezes no cinema. Mas, o que mais se destaca, longe dos ringues é sempre a relação entre Mick e seu irmão, sempre pontuada por momentos de ternura e ódio. O reconhecimento que nunca parte da mãe (Melissa Leo em uma performance de perua que certamente vai lhe valer o Oscar) que privilegia o filho decadente em relação ao resto da família, a falta de apoio ao filho mais novo, as consequências que isso traz para a vida de cada um dos personagens.

Sem dúvida, a presença de Christian Bale como o irmão decadente Dick é o ponto alto dessa mistura que explode no momento mais tenso do filme. Viciado em crack, ele parece nunca ter noção da realidade e acha viver seus momentos de glória. Bale emagreceu horrores para entrar no papel do esquelético personagem e consegue roubar as cenas a qualquer momento. De longe, o papel mais justamente premiado na temporada. Destaque também para Amy Adams que aqui, perde toda a compostura de moça certinha e se torna uma verdadeira garçonete de bar, sensual e, ao mesmo tempo, desleixada, descartando os preconceitos contra sua atuação.

Em O Vencedor, a história por si só já é maravilhosa, mas David O. Russell dá o tom sincero dessa aventura. Não imprime uma marca pseudo-intelctualóide como Cisne Negro, não tenta apostar em uma trama intrincada como A Origem, não é emocional demais como Toy Story 3, nem teatral demais como Bravura Indômita. Consegue ser quase humilde na sua tarefa de contar uma história que merece ser vista e ouvida e relembrada. E com isso, ganha créditos suficientes para marcar o seu lugar como um filme que consegue capturar a essência do cinema sem se preocupar com adereços pomposos, quase como a atuação libertadora de Amy Adams.

Amor e Outras Drogas - Boa comédia, desfecho medíocre, Anne Hathaway pelada

Amor e Outras Drogas - Boa comédia, desfecho medíocre, Anne Hathaway pelada

NOTA: 7,5 / 10

Love and Other Drugs
Estados Unidos , 2010 - 112 min
Comédia / Drama / Romance

Direção:
Edward Zwick

Roteiro:
Charles Randolph, Edward Zwick, Marshall Herskovitz

Elenco:
Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Oliver Platt, Hank Azaria, Josh Gad, Gabriel Macht, Judy Greer, George Segal


A dupla de protagonistas de Amor e Outras Drogas tem o mundo nas mãos. Jake Gyllenhaal é um dos queridinhos de Hollywood, sempre escolhendo projetos desafiadores ou simplesmente divertidos, sem preocupar-se com rótulos dramáticos ou de comédia, um ator versátil e de sucesso considerável nas bilheterias. Anne Hathaway é, além de linda, uma revelação agradável que mostrou não ser apenas uma menina bonita no interessante O Casamento de Rachel. Os dois então decidiram se divertir em uma comédia descompromissada sobre a maior revolução sexual das últimas décadas: o Viagra. A história se passa nos anos 90 e acompanha um representante da indústria farmacêutica que não quer nada com as mulheres, até conhecer uma garota como ele e aos poucos, perceber que a vida às vezes ainda consegue nos surpreender. Com bom timming para as piadas, o filme tem um início realmente muito engraçado. A crítica política às indústrias farmacêuticas não tem peso dramático, mas é alvo do humor cortante que esnoba com a empresa que se diz preocupada com a saúde de seu consumidor, mas todos sabemos, no fundo no fundo, é só o lucro mesmo. Assim, quando inicia a trama entre Anne e Jake, o filme ganha sua carga dramática, mostrando que o casal realmente funcionou nas telonas, com ótima interação tanto em diálogos quanto no quesito beleza (Anne Hathaway é um pedaço de mau caminho como poucas atrizes conseguem hoje em dia). Assim, o único problema que todos sabemos desde os créditos iniciais, é o final clichê da comédia romântica. Pra melhorar, tente adivinhar qual deles encerrará a película: será a corrida pelo aeroporto? Ou quem sabe, o trânsito interrompido e o amor declarado de cima de um carro? Pois fique atento, o filme obviamente lhe dará as pistas certas para o desfecho...



Bravura Indômita

Bravura Indômita

NOTA: 10 / 10

True Grit
EUA , 2010 - 110 minutos
Faroeste

Direção:
Joel e Ethan Coen

Roteiro:
Joel e Ethan Coen, baseado no romance de Charles Portis

Elenco:
Hailee Steinfeld, Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper


Não há como negar a capacidade dos irmão Ethan e Joel Coen em impressionar a cada novo trabalho. Com uma filmografia praticamente irretocável, a dupla trouxe clássicos do cinema moderno e foi consagrada com o Oscar por Onde Os Fracos não têm vez em 2007. Desde lá, receberam mais duas indicações de Melhor filme por O Homem Sério e, agora, uma nova versão do clássico que deu a John Wayne o Oscar de melhor ator, Bravura Indômita. No melhor estilo do gênero Western, a história mostra uma garota que contrata um caçador de recompensas na tentativa de vingar a morte de seu pai. A verdade é que a jornada será muito mais do que apenas de vingança.

A direção é impecável, seja no que diz respeito aos atores, como na fotografia que surpreende com belas cenas do Velho Oeste, bem como de locações isoladas que dão o tom de suspense e isolamento à perseguição. O tom do original também é mantido aqui, sem precisar de uma readequação para os tempos modernos, mas, justamente, utilizando a mesma estrutura, com poucas diferenças no foco dado pelos diretores. No caso, aqui o importante é o desenvolvimento da personagem principal e seu relacionamento com os dois caçadores de recompensa que a acompanham, que passa da leitura simplesmente superficial da amizade para uma transformação ainda mais profunda como entenderemos ao final do filme.

O elenco além de surpreender com a estreia da garota Hailee Steinfield, que não decepciona e merece a indicação ao Oscar que recebeu, conta ainda com os já oscarizados Matt Damon e Jeff Bridges (em uma das atuações mais incríveis de sua carreira), além do sempre competente Josh Brolin, como o covarde foragido. Basta dizer que só o elenco já justifica as indicações do filme ao prêmio da Academia e não seria surpresa se Bravura Indômita levasse a maioria dos prêmios na cerimônia da próxima semana...

Com diálogos sempre robustos e repletos de significância, além da sempre presente agressão visual, os Coen conseguem realizar um dos westerns mais surpreendentes dessa nova leva do gênero, que se apoia principalmente na investigação psicológica de seus personagens ao bangue-bangue enlouquecido. Ao que parece, essas revisões se propõe muito mais às características de Sergio Leone e John Ford do que propriamente às matinês dos finais de semana que preferiam mostrar sempre a mesma leitura de mocinho vs bandido. Esses méritos fazem de Bravura Indômita, de longe, o melhor filme de 2010.

Cisne Negro - A mais nova obsessão de Aronofsky

Cisne Negro - A mais nova obsessão de Aronofsky

NOTA: 9,0 / 10

EUA , 2010 - 108 min.
Suspense

Direção:
Darren Aronofsky

Roteiro:
Mark Heyman, Andres Heinz, John J. McLaughlin

Elenco:
Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder, Benjamin Millepied, Ksenia Solo, Kristina Anapau


Quem conhece o blog há um pouco mais de tempo sabe o efeito que A Fonte da Vida teve sobre mim e o quanto adoro o filme até hoje. A narrativa não-linear e extremamente complexa do filme, fora suas leituras semióticas e, logicamente, a mistura de ficção científica, existencialismo e morte tornam aquele filme a obra-prima de um dos diretores mais subestimados na década passada, mas reconhecido nos últimos anos. Aronofsky, em um olhar mais amplo sobre sua obra, trata sobre as obsessões humanas e de como isso leva à infelicidade e a destruição de tudo e todos à volta do protagonista. Já em O Lutador e Cisne Negro, a perturbante descida rumo ao inferno para o espectador parece ser ao protagonista apenas a aceitação da morte como o maior momento da vida, nem que para isso, ele já não possa mais existir. O clímax é tudo.

Em Cisne Negro, acompanhamos a história de uma bailarina que tenta conseguir o papel da Rainha Cisne, no Balé O Lago dos Cisnes, mas será desafiada por uma nova dançarina e, obcecada pelo papel principal, destruirá tudo em que acredita.

A direção de Aronofsky é sempre pesada e não é à toa que Cisne Negro muitas vezes faz lembrar O Lutador, com suas câmeras na mão, tomadas documentais e ganha contornos próprios ao invadir a cabeça da protagonista e mostrar o mundo por seus olhos. Com uma fotografia granulada, belos momentos mostrando a dança impecável de Natalie Portman, Aronofsky sabe como guiar o espectador do alto ao fundo do poço em pouco mais de duas horas. Acontece que quem já conhece o diretor e sabe o que esperar dele fica sim um pouco decepcionado, visto que não dá para colocar na personagem de Natalie Portman a fragilidade que Hugh Jackman, Jared Leto, Ellen Burstyn e até Mickey Rourke puderam trazer a seus protagonistas em outros filmes do diretor.

A atuação de Natalie é sim surpreendente, mas em certos pontos da trama, simplesmente torna-se irritante. Os poucos momentos onde divide a tela com Vincent Cassel e Mila Kunis ao menos conseguem trazer um pouco de sabor à mistura bastante inssossa entre o cinza predominante na fotografia e os momentos apáticos da protagonista.

Já o roteiro é uma bela análise digna de Freud, abordando elementos da psicanálise e cheio de referências para futuras palestras sobre esquizofrenia e desvios de personalidade amplificados pelo uso de drogas. Sabe manter o suspense e a sensação de desgraça iminente durante toda a sessão, comprometendo um pouco justamente na reviravolta final que perde o impacto, mas compensa em uma belíssima cena final digna de todo o peso do filme.

O filme não pode ser visto sob o olhar unicamente psicanalítico por correr o risco de se tornar didático, tamanha repetição dos mesmo tiques nervosos da personagem e sua insegurança. Também não pode ser pensado como uma obra de Aronofsky, justamente por perder na comparação com outras de suas histórias que tanto impactaram no passado. Não entra também na categoria de suspense, por não fornecer elementos suficientes para tanto. Enfim, passa muito bem como um drama psicológico poderoso que não deve ser em momento algum subestimado e mesmo ignorado, com o risco de perder uma bela obra que esconde nos detalhes sua verdadeira importância.

Machete - Robert Rodriguez e sua incursão infindável pelos confins do cinema B


Machete - Robert Rodriguez e sua incursão infindável pelos confins do cinema B


Nota: 5 /10

Eua, 2010 - 107 minutos
Ação

Direção:
Robert Rodriguez, Ethan Maniquis

Roteiro:
Robert Rodriguez, Ethan Maniquis

Elenco:
Danny Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Robert de Niro
Machete é um punhado de retalhos cinematográficos que justificam o trailer falso de grande sucesso do qual é baseado. Da primeira a última cena entendemos (ou ao menos tentamos entender) a incursão do diretor, homenageando o cinema de MACHO, aquele cinema feito exclusivamente para agradar o ogro escondido em cada um de nós homens. Nessa tentativa de emular o cinema de locadora, constrói uma história que, acima de tudo, consegue captar a principal característica dessas produções: a chatice.

O filme mostra a história de um ex-agente federal mexicano, que após ser emboscado por um chefão do tráfico e perseguido por um senador dos Estados Unidos, decide dar o troco em sangue.

Robert Rodriguez é um dos diretores de Hollywood mais autorais em todos os tempos. Suas produções (tanto as que dirige e escreve, como aquelas em que apenas produz), levam um toque seu em cada departamento da Troublemaker Studios: efeitos especiais, maquiagem e até mesmo trilha sonora. Desde Drink no Inferno, divide com Quentin Tarantino produções de baixo orçamento e empreitadas diferentes e saudosas de 1900 e antigamente. Foi com Grind House que essa empreitada foi levada ao máximo, tendo um péssimo desempenho nas bilheterias, mas ganhando força no cenário cult. A diferença é que o A Prova de Morte de Tarantino contrasta drasticamente com o Planeta Terror de Rodriguez. O primeiro mantém as características que tornam Tarantino um ícone do cinema, enquanto o segundo perde a graça pouco depois da metade do filme, partindo para cenas de ação apelativas e enfadonhas que nos fazem pensar que o tempo foi simplesmente esticado indeterminadamente. Em Machete, a violência injustificada perde a graça depois de certo tempo, mas ao menos, as cenas de luta tem pequenos presentes aos fãs que permitem um tempo maior de prazer visceral.

Enquanto isso, o elenco liderado por Danny Trejo carece de profundidade. Não adianta dizer que esse tipo de filme não leva esse tipo de análise, pois A Prova da Morte consegue trabalhar seus personagens em 15 minutos, o suficiente para que nos importemos. Assim, sobram tramas e subtramas que descaracterizam o filme e os personagens já sem sal da história.

O fato de Rodriguez ter afundado nessa onda de filmes B me faz ter saudades do tempo em que Sin City participou com louros do Festival de Cannes e me faz perguntar: qual o problema do diretor em voltar a esse cinema que nos fez delirar nas cadeiras do cinema, com um visual e enredo originais, além de atuações esmeradas que reergueram atores? Não creio que a fonte da originalidade técnica do diretor tenha secado, jamais. Mas chega de tentar emular o cinema ruim e volte a fazer o cinema de verdade, pelo qual todos esperançosamente aguardamos.