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Wall-E


Dizer que o selo Pixar é bom, chega a ser redundância. Chega a ser uma ofensa, na verdade. Tudo o que a Pixar produz, está de nivel ótimo, para excelente. Desde Toy Story, a empresa revoluciona o mercado cinematográfico. Foi graças a ela que o Oscar criou a categoria melhor filme de animação, fato comprovado pelo massivo número de prêmios que a empresa recebeu. A qualidade técnica é algo a parte. A cada ano, vemos os efeitos visuais melhorarem de forma absurda, e quando pensamos que não há como melhorar, eis que vem outro filme e joga nossas idéias por terra.

A história de Wall-E é bem atual: o acúmulo de lixo e o excesso de poluição obrigaram a população terrestre a fugir do planeta. Assim, cruzeiros espaciais foram preparados para que a humanidade sobrevivesse, enquanto na terra, pequenos robôs denominados Wall-E, faziam a faxina. Acontece que após, 700 anos, apenas um robô sobrevivera e continua executando sua programação dia-a-dia. Se eu contar mais um pouco, estrago muitas surpresas do filme e não pretendo fazer isso.

É difícil achar problemas no filme. A qualidade estética é fabulosa! A iluminação da terra apocalíptica é sempre forte e amarela, quase branca. A Pixar soube trabalhar o filme e trouxe o diretor de fotografia, indicado ao Oscar por Onde os Fracos não têm vez, Roger Deakins para o trabalho. Em certas partes do filme, esquecemos que é uma animação, devido a realidade que Roger traz para a cena. Desfoques de câmera e planos não convencionais, salientam a originalidade do diretor.

Atrás das "câmeras", Andrew Stanton, co-diretor de Procurando Nemo, realiza um trabalho primoroso, aliando técnica a sentimento. Aliás, esse é um fato importante: o filme tem pouquíssimas linhas de diálogo e os protagonistas, trocam no máximo meia dúzia de palavras durante todo o filme. É incrível ver as pessoas se emocionarem, rindo e chorando, com simples movimentos de olhos. Não há nem mesmo expressões faciais! São poucos que conseguem um resultado tão satisfatório, principalmente em uma animação.

Assim, carregados pelo carisma do simpático robozinho, a Pixar segue na liderança do mercado de animações. E pode ter certeza que os animadores da concorrência terão que suar a camisa para bater Wall-E no Oscar...

Livro: Ensaio sobre a cegueira


Não costumo postar resenhas de livros, mas a influência que alguns deles geram em minha pessoa, não consigo evitar. Após ler várias notícias sobre o novo longa-metragem de Fernando Meireles, baseado no livro de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, procurei imediatamente o livro. Me surpreendi com a visceridade que o escritor dá a sua obra. É um livro forte, com uma narrativa perturbadora.

Basta dizer que cada parágrafo é enorme, não há travessões para indicar falas, o texto é dividido praticamente por vírgulas e alguns pontos finais. Essa primeira impressão já causa estranheza e ajuda a criar o clima de perturbação que nos acompanhará no decorrer da história. A síntese já é caótica: uma epidemia começa a cegar a população, de uma maneira diferente. Ela não afeta o globo ocular e diferente da cegueira comum, cria uma névoa branca na visão da pessoa. Os primeiros doentes são rapidamente isolados em um manicômio abandonado e deixados a própria sorte. Entre eles, apenas uma pessoa consegue enxergar, e ela será o personagem central do livro.

O escritor não se preocupa em colocar nomes nos personagens, mas identificá-los por aquilo que nós os conhecemos. Cheia de metáforas e alusões, o livro mostra o declínio do homem perante uma adversidade natural. Da organização plena ao caos completo. A metade do livro é a mais pesada, mostrando os internos do manicômio vivendo em meio a fezes e violências ultrajantes. Saramago impõe um ritmo intercalado por conversas humanas e filosóficas, com cenas que mostram cada vez mais a parte negra da alma do homem. É no final dessa segunda parte do livro que após a morte de um personagem que o caos começa a dominar.

Nos últimos capítulos, contemplamos o futuro apocalíptico para aqueles que estavam soltos no mundo. Carros abandonados, cadáveres espalhados pela cidade. A humanidade em um estágio nunca visto antes, reduzidos a menos que animais, cada um lutando pela sobrevivência. Poucos traços de uma raça intelectualmente superior, acham-se nesses poucos sobreviventes.

Ensaio sobre a cegueira nos faz refletir sobre como realmente somos. Quando as cascas sociais começam a desaparecer, enxergamos a parte negra do nosso interior de uma forma que não esperávamos. Resta saber se o filme de Meireles, será tão forte quanto o livro de Saramago. O escritor se emocionou nas últimas cenas...

Agente 86


Quando sai da sala de projeção de Agente 86, tive a certeza de ter assistido a um ótimo filme. Conforme o tempo foi passando, senti que alguns pontos o tornariam apenas mais um filme dentre os tantos que assisti. O filme é muito bom, tem piadas excelentes(até pela assessoria do gênio Mel Brooks), a atuação de Carrell é ótima e as pernas...digo, participações de Anne Hathaway são boas dentro do possível, mas, tem algo que destoa um pouco...

Para quem não conhece, Agente 86 foi um seriado dos anos 60, precursor do gênero de humor nonsense, que fez um sucesso imenso em 5 temporadas. Com o premiado e engraçadíssimo Don Adams no papel principal, o seriado zoava com a guerra fria e as agências de inteligência americanas e russas. De um lado, os mocinhos do CONTROLE, do outro os terroristas do KAOS, liderados pelo chefe Siegfried. No filme, a premissa é a mesma, mas a história se passa antes de Maxwell Smart, tornar-se o Agente 86.

O filme tem piadas ótimas, que lembram muito a série original. Steve Carrell é um ótimo Smart, sempre com seu jeito inocente, que já é estilo, de fazer piada. Assisti no fim-de-semana um dos primeiros filmes com o ator: O âncora. Carrell interpreta Brick, o "cara" da previsão do tempo que tem QI de 48. Sem dúvida um dos papéis mais hilários de Steve. Além dele, Alan Arkin ficou muito bem no papel de chefe, um cara que pilota aviões, e sai no braço com o vice-presidente, em uma das cenas mais engraçadas do filme. Hathaway é linda, segura bem como a parte séria do filme e isso basta. Piadas ótimas, cenas de ação legais... o que deu errado?

Bom, estamos falando da direção fraca de Peter Seagel. O roteiro tem ótimas sacadas, mas não consegue deixar dos mesmo clichês e simplicidades de todos os filmes de comédia. Por que o filme não podia ser mais nonsense??? Não havia necessidade de cenas dramáticas ou mesmo de uma reviravolta tosca, como aquela poucos minutos perto do final. Mas, ela era previsível desde o momento em que Smart é negado como agente de campo pela primeira vez. Pena, porque qualidade o filme tem de sobra.

Cinefilia

Certo, eu estou passando dos limites um pouco. Mas, eu amo isso.

Semana passada, postei a critica de dois filmes que estrearam: Fim dos tempos e O incrível Hulk. Acontece que, como estava em princípios de solteirice, ocorreu-me a oportunidade de assistir os dois filmes no cinema, por falta do que fazer mesmo. Foi dinheiro nessa empreitada, mas o resultado foi interessante e diferente.

Com o passar da semana e a chegada do novo fim-de-semana, programei-me para assistir ao Agente 86, cuja crítica posto ainda hoje ou amanhã. Quando sai da sala de cinema, conversei com um amigo, e decidimos assitir Príncipe Caspian, o qual eu já tinha visto, ele não. O preço dos ingressos no Centro de Cultura de Sapiranga é tentador: R$ 4,00 adulto, R$ 2,00 estudante. Mesmo que o projetor estivesse desfocado no lado direito da tela, foi legal assistir mais um filme no cinema, no mesmo dia. Ao chegar em casa, assistimos ainda o Senhor dos Anéis: As duas Torres. O objetivo era assitir a Trilogia completa, mas o cansaço e a falta dos DVDs impediram o sucesso dessa empreitada. Domingo, passamos a tarde em uma sessão Will Ferrell. O âncora e Escorregando para a Glória, duas comédias excelentes por sinal, pra alegrar o domingo a tarde(tarefa quase impossível, dado que domingos a tarde são suicidantes.).

Enfim, o cinéfilo em mim despertou com tudo. Espero que eu consiga controlá-lo...

O Povo contra Larry Flint


Já faz alguns anos que esse filme chegou aos cinemas e VHS do mundo. É interessante notar que o assunto permanece tão atual. Aliás, são poucos os filmes que podem ser considerados atemporais. O assunto censura e liberdade de imprensa são disfarçados descaradamentes na biografia de um dos maiores pornógrafos do mundo( e, com certeza, um dos caras que causou maior alegria em adolescentes americanos em todos os tempos), Larry Flint. No começo, dono de uma danceteria go-go, agenciava dançarinas e sempre procurava seguir seus princípios, de ganhar dinheiro sem exploração, mas "honestamente". Foi quando, após publicar um boletim com garotas nuas, viu uma fatia do mercado norte-americano praticamente intacta. E foi aí que nasceu a HUSTLER. Diferente da Playboy, a revista não se importava com os artigos escritos, mas em mostrar aquilo que todos queriam ver. Cenas de sexo sem pudor, cartuns que zoavam com figuras tradicionais e genitálias femininas. Todos pensavam que a revista estava fadada ao fracasso, pois uma sociedade tradicional e cristã como a americana jamais se corromperia por essa baixaria. Os números falaram por si só: mais de 1,5 milhão de cópias vendidas, com as fotos da primeira dama dos EUA.

O filme mostra o crescimento polêmico de Flynt e todos os processos que o empresário sofreu na sua vida. Sempre se apoiando na primeira emenda, Larry Flynt se tornou um ativista contra a censura e a favor da liberdade de imprensa. Preso inúmeras vezes, rapidamente ganhou o apoio de vários jornais importantes dos EUA. Sempre privilegiava o direito do público de escolher aquilo que gostaria de ver, ler, sem ter alguém que escolhesse por eles. É claro, que isso tudo para que pudesse ganhar mais dinheiro, mas nem por isso deixa de ser um ato que envolvia coragem e determinação. Afinal, a primeira emenda norte-americana, garante o direito do cidadão de se expressar como bem entender, sem caluniar ou difamar é claro. E uma democracia só pode funcionar baseada nesse princípio.

Tecnicamente o filme é rápido, apesar de longo. A história tem um roteiro bem desenvolvido e soluções técnicas inteligentes do diretor Milos Forman, vencedor de dois oscar e que dirigiu grandes filmes como Um estranho no ninho e Amadeus. Milos tem competência ao dirigir os atores, colocando o protagonista Woody Harelson em uma indicação ao oscar, por sua atuação canalha e humana. Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, surpreende como a esposa amalucada, drogada e estranha de Flynt, de uma forma convincente. O jovem destaque Edward Norton(um dos meus atores favoritos), mostra talento como o advogado que defende eternamente o empresário. Todas essas atuações, sustentam bem o filme e mostram um trabalho excelente do diretor. Suas sequências tem um leve toque de humor, e nos fazem simpatizar com o insano e podre protagonista, em certos pontos da fita.

Um filme que nos faz, acima de tudo refletir, principalmente sobre como a liberdade de expressão e opinião é sufocada em nosso país, que se diz tão democrático.

Desafiando gigantes


Pois bem. Acho que está mais do que na hora deste blog se posicionar contra(já que a maioria reluta em fazer isso) de um dos filmes mais superestimados dos últimos anos. Depois de causar mais de trezentas respostas no tópico da comunidade oficial do filme, transponho de maneira mais técnica e verossímil a crítica da BOMBA, Desafiando Gigantes( ou, como eu carinhosamente chamo, Apurrinhando gigantes). Sem levar ofensas para o lado pessoal, tentarei me manter o mais atento aos fatos possível. E espero que isso seja respeitado por você que está lendo esta crítica. Apesar de ter muitas pessoas me chamando de tudo que é coisa, alguns ainda me apoiaram. Vejo que não estou sozinho nessa luta. Sem mais delongas, o filme:

No começo, pode se notar claramente a pretensão dele: uma tomada do campo de futebol prenuncia a audácia do filme. Sim, audácia. Na falta de produções decentes para o mercado gospel, o filme tenta explorar de forma nada original algumas tomadas bem feitas. Lembro que quando assisti a primeira vez, um amigo meu comentou: "Boa fotografia." Eu resmunguei algo como "Nã... é só pra parecer.". Dito e feito.

Vamos do princípio. A história do filme, é sobre um pastor...opa... treinador de um time de futebol fracassado, que tem pela frente o desafio de ganhar um campeonato e classificá-los para o torneio estadual. Premissa nunca antes usada por filmes como Duelo de Titãs, Um domingo qualquer, Virando o Jogo, e etc. Ok, a história não influi, se for desenvolvida de forma coerente e inteligente. Isso não acontece também. O roteiro é quase uma colcha de retalhos, que se repetem ainda por cima. Se o título do filme e a capa não fizerem você perceber do que o filme trata, não se preocupe: os atores estarão lá para lembrar pra você a cada cinco minutos que você nunca deve desistir. E aí o filme passa de uma suposta comédia-aventura, para um dramalhão de auto-ajuda. Nesse caso, o nome é substituído por fé. Mas, Roberto Shinyashiki atuou de consultor do filme? Claro que não! Porque todas as questões técnicas são culpa de Alex Kendrick, ator, diretor e roteirista, maquiador, iluminador, enfim, tudo no filme é ele que faz. Se alguém pensar em xingar o roteirista ao invés do diretor, pense bem: ambos são a mesma pessoa...

Depois de muito insistir, o filme deixa todo pudor de lado e se torna uma pregação animada. Não critico isso, esse era o objetivo do filme, financiado por uma igreja batista. Mas, clichês como "tudo deu certo depois que eu usei(neste caso) Jesus..." são presentes a todo instante. Se o filme acompanhasse mais 3 meses do casal, veríamos eles milionários, não há dúvida. Uma das coisas que mais me desanimou no filme, foi o fato do casal não poder adotar uma criança, mas ter que engravidar. Ou seja, você será abençoado se tiver um filho seu, não se criar um dos outros. Porque o casal não podia adotar? Há algum problema nisso? Se esse detalhe fosse mudado, minha opinião sobre o filme seria diferente. O final é o mesmo de sempre, com todo mundo feliz.

Atuações. Bom, não temos um ator profissional no filme. Talvez, as árvores... não sei. Mas não há muito o que falar sobre isso. Atuações que forçam a emoção e trilha sonora ensurdecedora são a saída para o folhetim quase Globo.

Uma tristeza. Considerado por alguns como o "melhor filme cristão de todos os tempos" acho precoce e ridículo dizer isso. Se você procura um filme de superação, então assista ao ótimo A PROCURA DA FELICIDADE. Esse pelo menos aconteceu de verdade, mesmo não substituindo fé por auto-ajuda.

Fim dos Tempos


Quase 3 anos após seu último filme(me refiro A Vila, pois não considero o insosso A dama n' água), Shyamalan desafia os estúdios e lança um filme de faixa etária 18 anos. O Fim dos Tempos(que é um nomezinho pra lá de tosco), ou The HAPPENING mostra os EUA sofrendo um ataque químico, que provoca o suicídio em massa. Premissa até interessante. Entende-se desde o começo do filme o porque da faixa etária tão alta. Mortes chocantes e bizarras, e até uma que lembra bastante a filmagem amadora do ET de Sinais, o que me provocou muitas gargalhadas.

E é a isso que o filme se resume. Pretextos para mostrar suicídios bem bolados. O fato dos personagens, em certa parte do filme, correrem do vento, é tosco! Shyamalan, que sempre nos brindou com pérolas de suspense, consegue ser vazio e brega ao mesmo tempo. Eu quero ver os comentários que ele fez sobre este filme, porque eu tenho certeza que ele quis fazer algo trash, estilo Planeta Terror. Simplesmente não há explicação para tanta ruindade. Mark Wahlberg tem uma péssima atuação e os atores coadjuvantes pioram tudo.

Fora isso, há os furos no roteiro. Começando por explicações insistentemente dadas por TVs ligadas em noticiários e pessoas que entram e saem sem mudar nada. Sem dúvida Shyamalan errou e feio. Pra não dizer que o filme é de todo ruim e repete as mesmas cenas do vento balançando folhas, o tempo todo, há uma ou outra tomada legal e as vezes surge um climinha de suspense aqui ou ali. E só.

O incrível Hulk


Doce surpresa para minha pessoa, quando sai sábado a tarde do cinema, satisfeito pela sessão que presenciara. Não esperava muito de O incrível Hulk. O trailer não me empolgou, as críticas que não havia lido, mas pareciam concordar, também não me davam muita esperança. Cheguei no cinema, pronto para gostar do filme e olhe lá. Mas, fui recompensado. Fã do Golias Esmeralda que sou, o filme ficou "redondinho".

Tecnicamente, não há erros a serem ressaltados. Efeitos ótimos, fotografia bem feita, locações diferentes, como no caso da Rocinha, enriquecem o filme. Aliás, o fato do Brasil ter sido escolhido como cenário incial, não havia me chamado muito a atenção. Pensei que seriam cinco minutos no máximo. Mas, são praticamente os vinte minutos iniciais, sem cair em clichês básicos do país. E convenhamos: é legal ver um cenário que não seja NY ou Los Angeles em filmes de Hollywood.

Edward Norton é um ator excepcional. Gosto dos trabalhos dele, gosto de como se envolve nos projetos e esse foi um dos casos. Boa atuação como Bruce Banner, escondida é claro por seu alter-ego verde, que rouba a cena e nos faz esquecer de Norton. Liv Tyler segue linda como sempre. William Hurt, excelente como general Ross. Mal, cruel. Tim Roth, ótimo como Emil Blonsky, ótimo como o Abominável.

Em análise geral, o filme tem um ritmo ótimo, mesclando ação, e pausas para respirar crescentes e satisfatórias. Aliás, o diretor Louis Leterrier sabe coordenar muito bem cenas de ação. Seu trabalho nessas cenas é vital para o bom andamento do filme, e apesar dele não ser genial, é uma ótima diversão pro fim-de-semana. E o final sempre me empolga. A cena com Tony Stark é fundamental e divertida. E procure referências. Vai achar muitas...

Antes do amanhecer e do pôr-do-sol



Há certos filmes que muito ouvimos falar bem, mas muitas vezes nem perto chegamos. É uma surpresa quando assistimos um deles e nos deparamos com uma verdadeira peça de sétima arte. Não que Antes do Amanhecer se proponha como uma obra prima, mas sem dúvida é um filme memorável, provavelmente o melhor do diretor RICHARD LINKLATER, superado unicamente por sua continuação, Antes do Pôr-do-Sol. O filme é uma amostra de como o cinema que foge das convenções hollywoodianas, pode ser agradável e instigador.

O lado bom do filme é sua história simples, que ganha muita riqueza pela qualidade dos diálogos, escritos com competência pelo diretor. Assim, conhecemos Viena, pelo ponto de vista de dois desconhecidos, que arriscam passar um dia juntos, antes de nunca mais se encontrarem. Os dois jovens, cada um com seu ideais, seus sonhos, e sem nada a perder, começam a encontrar um no outro, características semelhantes. Ethan Hawke e Julie Delpy, os dois atores, sabem carregar o filme nas costas sem mesmo a necessidade de coadjuvantes. Mesmo jovens, ambos mostram interpretações delicadas e fortes.

Tecnicamente o filme é delicioso. Uma fotografia simples, uma câmera que só acompanha o casal nas conversas, e caminhadas pela cidade. A falta da trilha sonora em todo o filme é um ponto a mais. Não a nada mais ilusório do que música para acompanhar por quase um dia inteiro os personagens. Por isso mesmo, ela só aparece em partes-chave do filme. O final não é meloso ao extremo, mas pode indignar espectadores despreparados...

Talvez a única ressalva seja o fato do filme tentar representar muito tempo em apenas duas horas. O dia parece ser maior do que realmente parece e há muitos lapsos na história, que podem ser ou não, preenchidos pelo espectador.

E é nessa pequena falha, que entra em cena o sucessor Antes do pôr-do-sol. Ao final da história anterior, os dois jovens prometem se encontrar de novo seis meses depois. No novo filme, dez anos após o encontro, o personagem de Ethan, escreve um livro contando as experiências ocorridas naquela noite de 95. Após uma sessão de debate e autógrafos em uma cafeteria de Paris, ele encontra novamente a personagem de Julie Delpy, e assim, decidem aproveitar a última hora, antes que seu vôo parta.

Agora, a história se passa em tempo real. Cada minuto que passa do filme, acaba com um minuto do encontro dos personagens. Sem contar muito da história, vale a pena ressaltar a maturidade tanto dos atores quanto dos personagens. Os diálogos idealistas, as idéias de mudar o mundo, não existem mais. Foram substituídas pela realidade. Mas é quando o tempo começa a se esgotar que ambos abandonam as cascas e revelam seu interior. Cenas fortes, viscerais as vezes. A interpretação de Julie entrando em desespero causa incômodo. Nos sentimos como Hawke ao lado dela: pequenos, sem saber o que fazer. Delpy rouba a cena na maioria das vezes. O final é outro algo. Você sabe que a história acaba, mas você não se conforma. O que podemos dizer, é que sentiremos falta de produções como essa. Por um bom tempo...

As Crônicas de Nárnia - O Príncipe Caspian


Quando C.S. Lewis escreveu toda a série de AS CRÔNICAS DE NÁRNIA, decidiu como Tolkien, jamais liberar os direitos de filmagem para nenhum grande estúdio. Mas, ambos escritores fascinaram gerações, e a adaptação tornou-se apenas uma questão de tempo. O estrondoso sucesso de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, caminhou lado a lado com as fortes críticas que o filme recebeu. Príncipe Caspian melhorou muito em relação ao primeiro, mas isso não garantiu o sucesso do filme.

A história é totalmente independente do primeiro filme, o que torna mais fácil sua aceitação para quem não teve saco de assistir ao cansativo capítulo inicial da história. Claro, que muitos detalhes são perdidos de uma história para a outra. Os irmãos Pevensie retornam após um ano ao país de Nárnia. No entanto, lá se passaram 1300 anos desde que os grandes reis Pedro, Edmundo, Lúcia e Susana, desapareceram na caçada ao cervo branco. Nesse meio tempo, os Telmarinos, uma país vizinho à Nárnia, invadiu e expulsou as criaturas mágicas, estabelecendo um reino cruel na terra encantada. Quando o herdeiro original ao trono é quase morto por seu tio, ele toca a trompa de marfim, invocando os Grandes Reis do passado. E aí começa toda a história.

A verdade é que o filme perdeu muito a inocência do primeiro. Princípe Caspian tem uma história bem mais obscura e mesmo violenta. E talvez, esse pouco a mais de maturidade melhorou bastante tanto o roteiro como o resultado final. Alguns podem se escandalizar com a violência(porque, além de tudo, o filme tem uma temática cristã), mas Lewis conta em seu ensaio COMO ESCREVER HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS, que não deve-se ter medo de mostrar a morte para as crianças. A morte é um ciclo da vida e deve ser mostrado como tal. Agora, há formas e formas de mostrar a morte, e ela não deve ser brutal também...

As atuações dos protagonistas novamente não se mostram as melhores. Mas, vale a pena notar a evolução de alguns atores. Pedro é um exemplo claro disso. Apesar de ter melhorado muito, ainda deixa a desejar em alguns pontos. Não convence como o líder do grupo, assim como o próprio Caspian deixa a desejar. Já Edmundo rouba a cena quando aparece. O pirralho chato do primeiro filme, agora está mais maduro, com falas inteligentes e lutando muito bem. O pequeno garoto se puxou muito e é o melhor em cena, dos quatro irmãos. As garotas foram um pouco esquecidas neste filme, o que não faz muita diferença mesmo.

Excelente mesmo é a sequência da batalha final. Se o primeiro filme já surpreendeu com a qualidade técnica, o segundo surpreende ainda mais, pela qualidade estratégica implantada nele. No livro, Lewis narra a batalha de forma vaga. A solução encontrada pelos cineastas foi pensar em toda a estrutura narrada pelo livro e desenvolver uma batalha em cima disso tudo. (Eu estou me mordendo para contar as idéias que tiveram, mas isso estragaria muitas surpresas.) Vale dizer que quem se aventurar a suportar as duas horas e vinte de filme, não irá se arrepender. Aliás, tem uma cena no final que não precisava estar lá. Mas, eu devo estar ficando velho.