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Hanna - Joe Wright muda, acerta na ação, mas se perde no caminho

NOTA: 6/10



Primeiro, um filme de época. Orgulho e Preconceito, a versão mais recente adaptada aos cinemas, com Keira Knightley, foi um sopro de novidade em um gênero irritantemente parecido. As soluções visuais tornaram a história atraente e contemporânea. Depois, filme de guerra. Desejo e Reparação pode ser considerado um dos filmes mais belos e tristes feitos no cinema nos últimos anos. Novamente, narrado com ritmo, belas imagens, um plano-sequência de dez minutos por uma praia francesa, que intercala o horror da guerra e a esperança de uma vida melhor. Por fim, um filme de auto-ajuda e superação. O Solista interpreta a música de forma visual, verborrágica e como única forma de ordem universal. Hanna é o primeiro filme do diretor voltado para o gênero ação/espionagem, novamente com Saoirse Ronan, que recebeu indicação ao Oscar por Desejo e Reparação. E apesar de lidar bem com as cenas de ação, o diretor parece não se encontrar muito bem onde já teve experiências nas outras produções: o meio do caminho.

Hanna foi criada pelo pai em meio à vastidão isolada da Sibéria. Treinada incessantemente na luta e sobrevivência, ela decide encarar o mundo e enfrentar a força da CIA que começa uma caçada para eliminá-la.

Saoirse começa o filme caçando um cervo e antes dos primeiros cinco minutos, já apontou a arma para o espectador e atirou. Olhando para a câmera sem piedade ou remorso ela simplesmente dispara. Não há diferença na vida ou na morte. Ao menos, ela não reconhece se há. Esse tom do distanciamento da realidade pela protagonista se reflete inclusive na sua presença física, completamente fora da realidade do ambiente em que está inserida. Sobrancelhas loiras, corpo esguio que não soa ou se queima, a dificuldade de se relacionar com outros seres humanos, tudo colabora para o estranhamento da personagem. Já Eric Bana e Cate Blanchet estão como os protótipos hollywoodianos de espiões: infalíveis mas imperfeitos. Fora desse triângulo, só se destaca a gangue de sádicos que protagoniza as melhores cenas do filme, mas ainda assim permanecem mal explorados.

A direção de Wright aposta em um clima rápido, com o volume da trilha sonora eletrônica empurrando o espectador em uma montanha-russa, logo na primeira meia hora do filme. É só quando a tentativa de relacionar a personagem com o mundo real começa que ela falha e derruba o ritmo do filme. O estranhamento e a desnecessária interação com personagens sem carisma estagna o Hanna tempo suficiente para tirar o interesse do espectador. A atenção só volta quando em duas cenas incríveis de luta, Wright ignora completamente a edição picotada e confusa da "era Bourne" e aposta em um plano-sequência rápido e inteligente.

Infelizmente, toda a preparação e calma do início do filme acaba por se desenrolar em um desfecho não só previsível como embolado, tentando amarrar muitas pontas soltas em poucos minutos. A garota que nem sequer sabia o que era uma tv descobrindo respostas sobre genética através do computador soa tão desnecessária quanto a metáfora da Chapeuzinho Vermelho entrando na boca do lobo, poucas cenas mais tarde. E quando enfim ela novamente se depara com seu adversário caído e prestes a morrer, fica óbvio que ela não pretendia errar o coração.

Piratas Pirados - A volta ao stop-motion dos estúdios Aardman

8,5 / 10


Lembro de quando era criança ser um fã das animações em massinha de Wallace e Grommit. Lembro nitidamente do episódio onde ambos viajam para a lua para comer queijo, porque como todos sabem, a lua é feita de queijo. É essa deliciosa lógica nonsense inglesa que tanto me conquistou através dos anos. Talvez  por essa ligação desde cedo com a cultura bretã, nunca entendi como algumas pessoas simplesmente não acham graça em Monty Python ou outros programas ingleses. Piratas Pirados e um desses filmes que ousam sair da zona de conforto infantil e apostar, mesmo que levemente, no politicamente incorreto, mesmo que isso signifique lidar com o desgosto de alguns pais que esperam um filme mais infantil e inocente para seus filhos.

O filme é baseado no livro The Pirates! Band of Misfits e mostra a história do Capitão Pirata, um atrapalhado capitão pirata que quer de uma vez por todas levar o prêmio de Pirata do Ano, concedido pelo Rei dos Piratas. Para isso, ele precisa fazer a maior pilhagem de tesouros dos sete mares, mas, com a sua tripulação de perdedores, essa não é uma tarefa muito fácil. Até que ele cruza o caminho de uma figura histórica que vai lhe ajudar a conquistar esse prêmio.

Com os mesmos diretores de Fuga das Galinhas, Peter Lord e Jeff Newitt e produzido pelo estúdio ganhador do Oscar Aardman (por Walace e Grommit - A batalha dos vegetais), Piratas Pirados é de uma beleza que só a animação em Stop Motion consegue trazer. As suaves paradas do processo de animação não impedem a fluidez ou a qualidade do filme, pelo contrário, trazem um certo charme. O roteiro de piadas rápidas, boas referências e leve humor negro carregam a história debochada, conseguindo um tipo de entretenimento e ponto de vista sobre piratas, diferente da sobriedade (pois é) de filmes como Piratas do Caribe, que depois de um ótimo começo, acabou por se transformar em uma franquia dispensável e desinteressante.

O universo criado em Piratas Pirados mostra um bando que valoriza a amizade mas não perde por pilhar saquear e matar se for preciso, mesmo que normalmente quem está em perigo sejam os próprios piratas. A presença de figuras históricas como a Rainha Vitória e Charles Darwin servem de elemento anárquico para criticar a sempre toda poderosa rainha e mesmo os escrúpulos de um dos maiores cientistas, que no fundo no fundo, era só um romântico inveterado. As dublagens inspiradas que contam com Hugh Grant, Martin Freeman (o novo Bilbo Bolseiro) e David Tennant (Dr. Who) colaboram pra transformar o filme em uma grande diversão que dá vontade de voltar a esse universo em busca de mais aventuras.

Valente - Nova animação da Pixar de novo deixa a desejar

Valente
7/10


Em 1995, a Pixar, um estúdio que começava seus trabalhos em parceria com a Disney, lançou o primeiro filme em computação gráfica da história do cinema, Toy Story. Muitos anos e seis Oscar de melhor animação depois, a situação é completamente inesperada. A empresa se fundiu com a Disney, dominou o mercado de filmes animados e seus criadores já migraram inclusive para produções live action, tamanho o respeito que a empresa conquistou com uma base de fãs aficcionados e produções que inclusive disputaram palmo a palmo premiações com filmes do cinema tradicional. Toy Story 3 foi o ápice. A primeira animação a quebrar a barreira do bilhão de dólares, uniformidade da crítica mundial, um filme de qualidade indiscutível e que traçou um padrão problemático para a empresa: como superar? Carros 2 foi um baque forte para a Pixar. O completo oposto de Toy Story 3. Valente, desde o primeiro trailer, prometeu resgatar o "elemento Pixar" que surpreendeu o mundo desde sua criação. Começando pela primeira protagonista feminina da empresa, passando por um tema difícil de não atrair a atenção (cenário medieval, magia e mitologia céltica).

Merida é uma princesa cansada de ser tratada como tal. Ela quer mais do que aquilo que sua mãe planejou para ela. E para isso, pede para uma bruxa mudar seu destino. O problema é que, pra variar, o feitiço sai errado.

A direção é de Mark Andrews, Brenda Chapman e, ainda, Steve Purcell. A divisão entre diretores é algo comum nas produções da Pixar e já alcançou ótimos resultados. Neste caso, Chapman é a única com experiência em longa-metragens, vinda de O Príncipe do Egito, animação em 2D da rival DreamWorks. O problema começa pelo fato de que Chapman saiu do filme em 2010, devido a divergências criativas. Logo, essa mudança se torna visível na produção.

Valente começa de forma divertida, rápida, irreverente e conseguem capturar a atenção do espectador. Aos poucos, as piadas de humor físico e a predileção por personagens fofinhos e inclusive canções(algo que até então era apenas pano de fundo nos filmes da Pixar) acabam por criar desconfiança no espectador sobre o destino que a história deve tomar. É quando surge a reviravolta que irá determinar o rumo do filme da metade em diante e, quando ela acontece, é decepcionante.

Talvez, o pior defeito de Valente seja o potencial desperdiçado. Os bons personagens, a trama, que apesar de já observada em tantos outros filmes da Disney, tem momentos de tirar o fôlego (o torneio de arco e flecha tem uma cena Robin Hoodiniana de dar inveja) e a sempre esmagadora qualidade visual da Pixar, não seguram o filme quando ele deslancha para o processo de restauração familiar que a mãe a filha precisam passar. Todo o tom de bravura do filme acaba por tornar-se quase uma comédia romântica, com situações engraçadinhas, mas sem peso dramático e muito menos um final climático. Basicamente o mesmo background foi trabalhado em Como Treinar o Seu Dragão, mas ali sim, com um crescimento ritmado até culminar em um final épico que condiz com o resto do filme. Valente tem um ou outro momento de tensão, mas ao final da sessão a impressão que fica é de que tudo foi feito com pressa e sem a escalada adequada. A conclusão do filme, que acaba se rendendo ao piegas também não ajuda e acaba por, novamente, não cumprir as expectativas criadas pela Pixar.

No fim, Valente ainda consegue ser um filme diferenciado, mas longe de se comparar a outras produções da Pixar, que no próximo ano tenta mais uma vez retornar a suas origens com a continuação de Monstros S.A.. Uma pena que as histórias originais andem em falta, mas que ao menos, ela reencontre seu caminho.

O Lorax - Animação baseada em Dr. Seuss aposta com tudo no público infantil

O Lorax
Nota: 7/10

Dr. Seuss é um daqueles autores que faz parte da literatura norte-americana de uma forma tão forte que suas adaptações para o cinema são apenas uma questão de tempo. De tempos em tempos, pipoca mais uma produção baseada em seus livros infantis com tremendo sucesso no Estados Unidos, mas sem a mesma força no resto do mundo. O Lorax não é exceção e consegue manter a linha entre diversão e aprendizado de forma divertida e surpreendentemente bem estruturada. Apesar de insistir no cuidado com meio ambiente e sustentabilidade, dois assuntos interligados que estão mais do que batidos em todas as mídias, o filme consegue boas piadas e números musicais ao melhor estilo Disney, apesar de passar bem longe dos estúdios de Mickey Mouse.

O Lorax mostra a história de Ted, um garoto que decide encontrar a última árvore do planeta para conquistar uma garota. Ele conhece o Once-ler, o homem que em sua ganância acabou com as florestas apesar dos avisos do Lorax, uma criatura que protege as árvores.

A Illumination Entertainment estreou com um sucesso inesperado na animação Meu Malvado Favorito. Longe de procurar os público adolescente e jovem, já disputados acirradamente por Pixar e Dreamworks, a empresa aposta no público infantil sem medo de ser feliz. Tanto o Lorax quanto Meu Malvado tem temáticas primárias, protagonistas caricatos e piadas visuais em abundância. Longe de explorar relacionamentos problemáticos ou lidar com questões problemáticas do crescimento e da vida, seus filmes são de simples linguagem, conflito e finais felizes que, querendo ou não, agradam a criançada e não deixam de encantar o público mais velho.

A fluidez da animação que aposta no cartoon sem medo e as cores vibrantes vindas do universo de Seuss, fazem de Lorax uma aventura original, realçada por uma boa dublagem de um elenco inspirado. Mas o que realmente me conquistou em todo o filme foi a canção "How Bad Can I Be?".



Rápida, com boa levada, a música brilhantemente interpretada por Ed Helms transforma o protagonista de um personagem digno de pena há um completo idiota em pouco mais de dois minutos. No rápido clipe, noções de escala cor e inclusive expressionismo alemão reúnem o que de melhor o filme constrói em linguagem visual.

Apesar de tudo, O Lorax acaba por se apoderar de saídas fáceis e clichês característicos de filmes infantis o que ofusca um pouco de seu brilho único e de suas ousadas tentativas de fugir do lugar comum.