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O Segredo dos seus olhos - Como Campanella superou A fita branca

O Segredo dos seus olhos - Como Campanella superou A fita branca

Nota: 9,5 / 10

El Secreto de Sus Ojos
Argentina / Espanha , 2009 - 129 min
Policial / Drama
Direção:
Juan José Campanella
Roteiro:
Juan José Campanella
Elenco:
Ricardo Darín, Soledad Villamil, Guillermo Francella



A fita Branca
entrou como grande favorito na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Entre os indicados, novamente Juan José Campanella concorria pela Argentina depois do excelente O Filho da Noiva, com O segredo dos seus olhos. Na hora do anúncio, a surpresa: A academia premiou o filme argentino contradizendo as maiores apostas. A mais agradável contrariedade da noite, fica visível claramente quando assistimos os dois filmes. Apesar da densidade de Michael Haneke, o filme de Campanella é muito mais cinema que seu rival.

A história mostra um homem que no final de sua vida decide escrever um romance sobre um caso de justiça ocorrido na época da ditadura argentina: um estupro seguido de morte ao qual o acusado nunca foi preso.

Diferente da maior parte dos filmes do diretor, O segredo dos seus olhos é um filme mais tenso do que os demais. Apesar do humor refinado sempre presente em suas películas, a carga dramática e o suspense se desenvolvem tão naturalmente quanto às risadas. Outra característica marcante é a direção ousada que ele impõe, com tomadas corajosas e enquadramentos especiais que mantém o clima construído durante toda a projeção.

A fotografia do filme é de um primor pouco visto no cinema sul-americano. Uma das cenas merece comentários a parte: Um plano-sequência sobre o estádio do time de futebol Racing, que dura quase dez minutos e culmina em uma das perseguições mais incriveis dos últimos tempos. Só esta cena é capaz de sintetizar a ousadia de Campanella que teve um orçamento de apenas 2 milhões de euros(não é metade do que custou Lula, o filho do Brasil) e fez milagre com bom argumento e ótimos personagens.

São eles outro destaque do filme. Ricardo Darín é velho conhecido dos fãs, um dos maiores atores argentinos dessa geração. Nesse filme, apesar de sua importância e competência, são os coadjuvantes que roubam a cena, como o bêbado inveterado Sandoval(o comediante Guillermo Francella) que traz humor mas também emociona com muita competência. Juntam-se a ele Pablo Rago como o marido da vítima Morales e Javier Godino, o lunático assassino Goméz. Personagens que são mais do que apenas falas no roteiro, mas são parte fundamental da trama por trás do título.

Já dizia Pierre Weil, em O corpo Fala, que 90% de nossa comunicação é física, sendo 10% reservadas à fala. A todo o momento, o diretor nos joga diálogos que em compensação revelam muito menos que os olhos dos personagens. A todo momento, um close tenta nos revelar qual o segredo está escondido em cada um. Seja no relacionamento nunca estabelecido entre dois amantes frustrados, seja em um interrogatório, seja em uma conversa de amigos ou mesmo entre uma vítima e o investigador. Por trás de cada olhar, um segredo capaz de mudar uma vida. Mas, em qual desses pares de olhos se esconde o maior segredo?

De todas as metáforas que J.J. Campanella poderia se utilizar é na visão que cada um de seus personagens se atém, a sua paixão que ele se concentra. Quando o personagem de Darín finalmente abandona sua visão presa ao passado é que consegue olha para aquilo que estava tão a frente de seus olhos.

É com esse tipo de armadilha criativa que O segredo de seus olhos bateu A fita branca. Ele é menos tratado sociológico e mais filme. Sem desmerecer qualquer um dos dois, mas o argentino é mais humano e consegue conquistar sua audiência. Se tem algum pecado, é seu didatismo em certos momentos. Mas, até isso você perdoa e sai do cinema com a sensação que todo filme deveria passar: a sensação de estar completo.

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