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Código 46 – Admirável mundo novo onde amar é proibido


Uma das mais conhecidas obras de Aldous Huxley mostra a humanidade em um futuro desprovido de pensamento próprio e sentimentos. A máquina humana funciona quando tem seus desejos primitivos saciados e seus sentimentos, sedados por drogas ingeridas todos os dias. O pré-condicionamento desde a infância torna o processo de castas facilmente aceito por todos. O que Código 46 mostra, é um mundo que se encaminha para essa realidade, com a penas uma característica além da obra original: a globalização.


A história mostra um investigador que é deslocado para Xangai, na busca de um contrabandista de passes: um certificado que garante ao possuidor a entrada nas grandes cidades. Quem não tem, permanece em zonas áridas, sem qualquer tipo de atendimento ou auxílio. Ao se apaixonar pela criminosa, ele inicia um perigoso jogo onde irá violar um dos mais temidos códigos de conduta impostos pela genética.


O diretor Michael Winterbottom, privilegia a história dos protagonistas ao mundo à sua volta. Câmeras que simulam o olhar e podem ser interpretadas como a memória do investigador, tomadas na cidade deserta, em comparação com o deserto que os cerca longe dos grandes centros. Tudo, em busca de um sentimento de isolamento e incompreensão de uma sociedade que deixa de lado toda a humanidade possível. Não existem relacionamentos que não venham de interesses ou sejam geneticamente incompatíveis.


A trilha sonora parece verter do filme. Flui naturalmente, intercalando o eletrônico e o transcendental, elevando ainda mais o sentimento de perda e solidão que permeiam toda a película. Tim Robbins é firme em seu papel, mas é Samantha Morton quem rouba a cena. Sua atuação é de corpo e alma, como o amor de sua personagem ao de Robbins. Suas dúvidas e questões são aquelas que nós desenvolvemos na história. Sua tristeza e seu amor mostram ser sua derrota final.


Talvez um dos elementos mais interessantes do filme, seja a inclusão de um fator que não era conhecido na época de Huxley: o advindo da globalização, que apesar da distância das cidades, parece subdividir o mundo em apenas grandes cidades, que já não sofrem do antigo problema de superlotação, devido ao grande avanço no controle de natalidade. Vemos em Xangai mais ocidentais do que propriamente orientais. Os chineses são encontrados apenas em bares tradicionais, não mais no seu convívio natural. A língua é provavelmente, o detalhe mais interessante do filme. O inglês usa expressões dos mais variados idiomas. Francês, espanhol, português, alemão...tudo resultado mais uma vez, da massiva globalização colocada em prática nos países de todo mundo.


Novamente, é o elemento inesperado que é exaltado na história. A sociedade fria e vazia não mostra valor quando o lado de fora é permitido a liberdade plena do ser humano. Um personagem em certo ponto diz: Clima, ambiente, Deus, causalidade, família... nenhum de nós está preso ao seu gene. Parece ser a chave que libertaria o protagonista. Mas, a sua tentativa covarde de voltar a vida mostra sua essência: ele é condicionado a viver sobre as regras da sociedade. O que em Código 46 é genético, em nossa realidade, mais uma vez, chamamos de medo. E assim, não vivemos.


Apesar da condenação final da personagem de Samantha, o que fica não é sua perda, mas um sentimento que o investigador jamais vai desfrutar: a falta de um amor verdadeiro e fora dos padrões, que mesmo não existindo mais, fica pra sempre em sua memória. Doendo, mas vivo.


"When the truth is... I miss you"

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