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O cheiro do ralo - O lado obscuro de cada um


Selton Melo faz parte de uma geração de atores brasileiros que surgiu através das novelas, mas logo desistiu e achou seu rumo no cinema. Sem dúvida uma das decisões mais inteligentes e certas de sua vida. Seu nome está acima da maioria de atores globais e vê-lo no cinema é sinônimo de diversão e boa atuação. Entram nesse grupo ainda, Mateus Nashtergaele e mesmo, Rodrigo Santoro. O cheiro do ralo é a consagração de Selton, em mais um papel desafiador e inteligente, e que mostra a qualidade do cinema brasileiro.

Na história, ele é Lorenço, um antiquário que humilha as pessoas simplesmente por prazer. Atormentado por um cheiro de ralo de seu banheiro, ele torna-se obcecado pela bunda de uma garçonete e por um olho de vidro que compra de um cliente. Tudo isso ruma para um trágico desfecho.

O baixo orçamento do filme nem se faz notar. O elenco bem entrosado e competente não deixa o espectador notar os poucos planos de movimento que o filme proporciona. Feito quase todo em planos fixos, o filme tem uma boa fotografia e iluminação, cortes com timming, o que favorece as atuações ao invés de torná-las oblíquas.

Lorenço é o personagem mais interessante dessa história toda. Seus desejos, decepções, desgosto com a vida e obsessões fazem com que você o odeie com todas as forças, para logo depois, ter pena dele. A atuação de Selton é fundamental para essa compreensão do personagem. Ele torna o seu desinteresse em uma arma para arrebatar o espectador e prende-lo ao filme. Sua obsessão pelo cheiro do ralo ou pela bunda, que culmina em um final grandioso, são latentes e escondidos, mas manifestam-se nos momentos propícios. O cheiro e a bunda estão sempre lá.

Tudo para apresentar um pequeno pedaço da humanidade. O cheiro do ralo é aquela parte do nosso interior, suja e mal-cheirosa, que nós tentamos ignorar, disfarçar e dizer que não somos nós. E mesmo assim, nunca abandonamos, porque em um certo ponto, só ela nos satisfaz. É o desejo secreto que nos traz vergonha, mas que não abandonamos porque precisamos dele para nos satisfazer. O poder pode conseguir tudo, mas a bunda continua nos perseguindo até o fim derradeiro. Desejo que é saciado, mas não tira a vontade de cheirar o cheiro do ralo.

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