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Cisne Negro - A mais nova obsessão de Aronofsky

Cisne Negro - A mais nova obsessão de Aronofsky

NOTA: 9,0 / 10

EUA , 2010 - 108 min.
Suspense

Direção:
Darren Aronofsky

Roteiro:
Mark Heyman, Andres Heinz, John J. McLaughlin

Elenco:
Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder, Benjamin Millepied, Ksenia Solo, Kristina Anapau


Quem conhece o blog há um pouco mais de tempo sabe o efeito que A Fonte da Vida teve sobre mim e o quanto adoro o filme até hoje. A narrativa não-linear e extremamente complexa do filme, fora suas leituras semióticas e, logicamente, a mistura de ficção científica, existencialismo e morte tornam aquele filme a obra-prima de um dos diretores mais subestimados na década passada, mas reconhecido nos últimos anos. Aronofsky, em um olhar mais amplo sobre sua obra, trata sobre as obsessões humanas e de como isso leva à infelicidade e a destruição de tudo e todos à volta do protagonista. Já em O Lutador e Cisne Negro, a perturbante descida rumo ao inferno para o espectador parece ser ao protagonista apenas a aceitação da morte como o maior momento da vida, nem que para isso, ele já não possa mais existir. O clímax é tudo.

Em Cisne Negro, acompanhamos a história de uma bailarina que tenta conseguir o papel da Rainha Cisne, no Balé O Lago dos Cisnes, mas será desafiada por uma nova dançarina e, obcecada pelo papel principal, destruirá tudo em que acredita.

A direção de Aronofsky é sempre pesada e não é à toa que Cisne Negro muitas vezes faz lembrar O Lutador, com suas câmeras na mão, tomadas documentais e ganha contornos próprios ao invadir a cabeça da protagonista e mostrar o mundo por seus olhos. Com uma fotografia granulada, belos momentos mostrando a dança impecável de Natalie Portman, Aronofsky sabe como guiar o espectador do alto ao fundo do poço em pouco mais de duas horas. Acontece que quem já conhece o diretor e sabe o que esperar dele fica sim um pouco decepcionado, visto que não dá para colocar na personagem de Natalie Portman a fragilidade que Hugh Jackman, Jared Leto, Ellen Burstyn e até Mickey Rourke puderam trazer a seus protagonistas em outros filmes do diretor.

A atuação de Natalie é sim surpreendente, mas em certos pontos da trama, simplesmente torna-se irritante. Os poucos momentos onde divide a tela com Vincent Cassel e Mila Kunis ao menos conseguem trazer um pouco de sabor à mistura bastante inssossa entre o cinza predominante na fotografia e os momentos apáticos da protagonista.

Já o roteiro é uma bela análise digna de Freud, abordando elementos da psicanálise e cheio de referências para futuras palestras sobre esquizofrenia e desvios de personalidade amplificados pelo uso de drogas. Sabe manter o suspense e a sensação de desgraça iminente durante toda a sessão, comprometendo um pouco justamente na reviravolta final que perde o impacto, mas compensa em uma belíssima cena final digna de todo o peso do filme.

O filme não pode ser visto sob o olhar unicamente psicanalítico por correr o risco de se tornar didático, tamanha repetição dos mesmo tiques nervosos da personagem e sua insegurança. Também não pode ser pensado como uma obra de Aronofsky, justamente por perder na comparação com outras de suas histórias que tanto impactaram no passado. Não entra também na categoria de suspense, por não fornecer elementos suficientes para tanto. Enfim, passa muito bem como um drama psicológico poderoso que não deve ser em momento algum subestimado e mesmo ignorado, com o risco de perder uma bela obra que esconde nos detalhes sua verdadeira importância.

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