Nota: 9 / 10
Pilar de seu cinema desde Cães de
Aluguel, o western spaghetti sempre completou a trinca de influências
da colcha de retalhos que é a filmografia de Quentin Tarantino. Juntamente com
os filmes de kung fu e o trash dos anos 70, suas referências
podem ser encontradas com maior peso em Kill Bill e, naquele que veio a ser
considerado sua obra-prima, Bastardos Inglórios. Se as maiores referências para
a história de Django Livre são os filmes de Sergio Leone (Era Uma Vez no Oeste e
Três Homens em Conflito), a estética e a forma de contá-la são 100%
tarantinescas. Estão presentes a verborragia hipnotizante, a violência
atordoante e a edição rápida, já conhecidas de seus filmes e que vão totalmente
contra o ambiente imersivo e lento de, por exemplo, a cena de abertura de Era
Uma Vez, que por quase 10 minutos encara os capangas em uma estação de trem, ou
o desfecho de Três Homens, que parece durar uma eternidade no famoso mexican
stand-off. Django é portanto, a visão do velho oeste pelos olhos da geração
multimídia, que não tem paciência para a letargia do faroeste, mas procura nos
filmes o frenetismo do dia-a-dia. Talvez por isso, o filme seja tão
prazeroso.
Django Livre conta a história de um
escravo (Jamie Foxx) que se associa ao caçador de recompensas alemão, Dr. King
Schultz (Cristoph Waltz), para
tentar encontrar sua esposa, comprada por um perigoso fazendeiro conhecido como
Candie (Leonardo DiCaprio). Como pano de fundo, a iminência de uma revolução
abolicionista. E Tarantino não tenta oferecer um lado digno para os
escravocratas: ele os trata como ignorantes e burros preconceituosos. Ninguém
que pactua com a atividade é poupado. É a revanche do mais fraco, já abordada em
Bastardos Inglórios, que não deu chances à figura histórica de
Hitler.
Por mais que Cristoph Waltz pareça repetir o papel de
Hans Landa na encarnação do anti-herói Dr. Schulz, sua atuação novamente
impressiona pela profundidade que o ator aplica constrói seu personagem. Os
trejeitos físicos e a presença psicológica de Schulz quase apagam o protagonista
Jamie Foxx, mas o diretor soube elevar Django na hora certa, e no terceiro ato,
ele rouba a cena de forma a chumbo e sangue. DiCaprio é um destaque a parte,
digno do hall de vilões de Tarantino.
Se Tarantino peca em Django, peca pelo excesso.
Excesso de referências, de citações (que incluem o conto de Siegfried e
Brunhilda, e as origens da Ku Klux Klan). Excesso de exageros. É como se o
diretor estivesse ciente disso e se desculpasse com o público na última frase do
Dr. Schulz, ao condenar todos os personagens no ápice do filme: “Eu não pude
resistir”.
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