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A Fonte da Vida ( The Fountain)


A morte sempre representou, para muitas culturas, não o fim, mas o início de algo maior. O budismo, cristianismo, civilizações latino-americanas, persas e fenícios, sempre acreditaram que havia algo maior que a vida após esse período na Terra. No entanto, a incerteza do que vem a seguir, nos faz temer o futuro e tentar adiar nossa ida para a próxima etapa de nossa alma, que acredita-se ser imortal.

É nesse contexto que se desenvolve o novo filme do diretor-autor Darren Aronofsky. A história se deserola entre três linhas temporais diferentes, mas que levam sempre a mesma conclusão ao final do filme. A primeira linha simboliza o passado, na época da dura Inquisição Espanhola. Lá, a mando da rainha Isabel (Rachel Weisz), o valente Conquistador (Hugh Jackman) parte para a América Central para descobrir a única salvação para o reino da Espanha: uma árvore que concede a vida eterna. Na segunda história, o brilhante cientista Tommy Cario (também representado por Hugh Jackman, assim como sua esposa, novamente representada por Rachel), descobre que sua esposa Izzi tem um câncer em estágio terminal e corre contra o tempo para evitar que ela morra. A terceira linha se desenvolve no futuro, onde o cientista viaja em uma nave, em direção a uma estrela morta. Durante toda a película, as histórias se sobrepõe, para nos últimos instantes, se entrelaçarem em uma conclusão fabulosa.

Nas três histórias, dois fatores são predominantes: A árvore da Vida, que se supõem ser a árvore descrita no Jardim do Éden e o fato dos personagens de Jackman sempre ansiarem acima de tudo, pela vida. E essa busca desenfreada os faz ficarem cegos para as coisas ao seu redor. Enquanto isso, a personagem de Rachel Weisz, aceita a vinda da morte como algo natural e tenta convencê-lo a aceitá-la, como parte da vida.

Hugh Jackman perde toda caracterização de Wolverine que se esperava ser sua marca registrada, assim como outros atores ficam marcados em certos personagens pelo resto de suas vidas. Mas, ao encarnar o cientista, explorador e viajante, pode se notar uma qualidade de atuação magnífica de sua parte. Rachel Weisz é um caso à parte. Ela é linda no seu modo de ser linda. Os efeitos de luz quando ela é a Rainha Isabel tornam-na quase um anjo na presença de seres imundos e pestilentos. E durante as outras cenas é sempre ela que preenche o cenário. E Darren sabe usar as tomadas certas com ela, afinal, ela é sua esposa.

Outro ponto forte, é a direção competente e diferente que Darren proporciona. Assistir a um filme dele é mais do que assistir um filme. É refletir sobre um assunto, seja ele a loucura e paranóia (em Pi), a solidão e as drogas (em Réquiem para um sonho) ou a superação da morte. E não só do ponto de vista da história, mas também da técnica por ele empregada. Diferentes da maioria dos filmes que utilizam computação gráfica para produção de certos efeitos, em The Fountain, são utilizadas reações químicas filmadas por câmeras microscópicas, que produzem efeitos incrivelmente diferenciados e lindos.

A iluminação predominante do filme é o amarelo dourado. De acordo com a tradição budista, essa cor significa a renúncia ao mundo profano. Isso explica em boa parte alguns pontos do filme que podem passar despercebidos sem a devida cautela e que ajudam a entender melhor o todo do filme. No passado, o amarelo é pouco visto, excetuando claro, no vestido de Isabel e no momento em que Explorador encontra a Árvore. No presente, o amarelo é obscurecido pelo preto, ou seja, o mundo e a ciência (ou razão) são tão fortes e presentes no laboratório de Tommy, que não há espaço para o sobrenatural, ou a transcendência. Já no futuro, o personagem devidamente preparado e entendido se entrega à nebulosa amarela na cena clímax do filme, aceitando a morte e alcançando sua totalidade, ou se preferir, não temendo mais a morte. A busca de Conquistador, termina de forma parecida, mas mostrando que a vida eterna só é possível, através da morte.

"Remember: Death is not the end...It is only a transition" - Dream Theater