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37º Festival de Cinema de Gramado - 2ª Parte

Já passou a premiação, já acabou o festival. Mesmo assim, é bom você saber o que aconteceu nos últimos 3 dias do evento de cinema mais famoso do RS.

Nochebuena, de Maria Camila Loboguerrero: O cinema colombiano teve referência no Festival do ano passado, com o violento Perro come Perro, um genérico de Cidade de Deus. Não que isso realmente signifique que o filme seja bom, porque eu pessoalmente não gostei de Nochebuena. Talvez, por ranha da minha parte, mas não aconteceu a química. O filme me pareceu bobinho e sem graça. Felizmente, gostei do final, diferente da maioria das comédias já assistidas.

Corumbiara, de Vincent Carelli: Ninguém esperava muito sobre um documentário indígena. E todo mundo ficou surpreso com o documentário vencedor do Kikito de melhor filme. Intrigante, o que chama a atenção nele é a forma como o diretor narra a história que é tão sua quanto dos índios. Durante vinte anos, ele tenta salvar índios isolados, massacrados e esquecidos de fazendeiros inescrupulosos, em Rondônia. Durante esse tempo, vemos não apenas seu desgaste físico, mas também moral. Aos poucos o diretor e seu colega param de tentar fazer o documentário, para, pelo menos, juntar provas ao Ministério Público. O ponto alto do documentário são os contatos com índios que nunca haviam encontrado o homem branco. Há certas cenas que eles parecem ets. Outras, a tensão é enorme na tentativa de provar que eles existem. Um filme político e forte, mas que mereceu sem dúvidas, o prêmio de melhor do Festival.

Lluvia, de Paula Hernández: Depois da rainha dos baixinhos, a sessão esvaziou. Sabiamente, Zé Victor Castiel soltou um irônico "Voltemos ao cinema!", aplaudido pela platéia que ali estava. Um filme singelo, uma história de amor às avessas é o que se pode dizer de Lluvia. Ele se passa em 3 dias de chuva na cidade de Buenos Aires, onde o destino de uma garota que mora num carro e um espanhol misterioso vão ser muito mais parecidos do que imaginam. O filme explora a nuance de personalidade desses dois personagens, muito bem construídos. Enquanto o espanhol se abre ao máximo com a moça, ela parece se resguardar cada vez mais. Mas, não é isso que transparece à primeira vista. Justíssimo o prêmio de melhor filme estrangeiro pelo Júri Popular.

Em teu Nome, Paulo Nascimento: Definitivamente, não sei o que nesse filme fez as pessoas o aplaudirem de pé. É mal montado, tem uma trilha irritante, interpretações calhordas e um tema batido: ditadura militar no Brasil. A iluminação estourada é feia, a câmera que treme o tempo todo irrita, o didatismo das cenas. Por exemplo: há uma personagem torturada. Nós sabemos que ela sofreu. Mas, o diretor repete isso a cada 10 minutos na tela até a cena clímax e desnecessária, onde ela fala "eles se masturbavam na minha cara". Pior que isso só em outro momento alto do filme, onde o protagonista, falando sobre a importância da luta pela liberdade deixa a bola picando para sua namorada soltar, em uma péssima interpretação, um "tô grávida". Levou prêmios demais, na minha sincera opinião.

Gigante, de Adrián Biniez: O segundo Berlim da mostra estrangeira, mostrou porque era um dos fortes candidatos ao prêmio principal. A história de um segurança de supermercado que fica obcecado por uma empregada tem seu charme, ótima interpretação e um humor sutil. Destaque, claro para o protagonista Horacio Camandule, que é na verdade um professor de primário e não ator. Ele recebeu o prêmio de melhor ator estrangeiro e o filme levou melhor roteiro. Um ótimo filme que mostra uma retomada no cinema uruguaio.

Corpos Celestes, de Fernando Severo e Marcos Jorge: Talvez o segundo melhor filme brasileiro do Festival, mas não tão bom quanto Estômago. Apesar da bela estética que os diretores empregam no filme(e Marcos Jorge parece um dos poucos diretores a experimentar nesse ramo), Corpos Celestes se perde um pouco na sua imensidão. O primeiro ato, que vai até quase metade do filme é bem desenvolvido, mas deixa pouco espaço para o personagem adulto. Talvez, a história feizesse mais sentido, se o primeiro ato fosse inserido como quebra de linearidade, dentro do segundo ato. Nós agradecemos a nudez de Camila Holanda, mas ela é desnecessária dentro do contexto. Fico triste por dizer isso, já que sou a favor da nudez no cinema nacional. No mais, o filme é ao menos, diferente da maioria e vale muito a pena ser conferido.

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