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Sob o domínio do medo - Remake de clássico dos anos 70 carrega a mão no culto ao macho vitimizado


Remakes não são boas coisas. Poucas vezes você assistirá a uma repaginação sem sentir que tem algo errado no que está sendo feito. Mesmo aqueles que seguem o passo-a-passo, frame-a-frame do original tendem a perder alguma coisa no caminho. No recente Deixe-me Entrar, remake do sucesso sueco Deixe ela entrar, as pequenas sutilezas que fizeram toda a diferença no original são suprimidas em favor do politicamente correto. O garoto que, na versão europeia, tinha fortes tendências sadistas, aqui, é apenas mais uma vítima de bullying, aquele mal que até dez anos atrás nós chamaríamos de frescura e agora parece mais a descoberta da roda para a sociedade. Sob o domínio do medo reutiliza a estrutura do filme original do genial Sam Peckinpah para apenas atualizar a história com atores que as novas audiências conhecem, mas longe de conseguir o clima de tensão do original. A tentativa, no entanto, é bastante válida.

Tudo começa quando um roteirista de cinema e sua mulher, uma atriz de seriado, decidem voltar para a terra natal da moça. Lá, ele pretende escrever um roteiro sobre o cerco a Stalingrado e como os russos viraram a história da segunda guerra mundial (curioso como tudo aponta para a própria situação do casal nos momentos finais da trama). Na cidade interiorana, Charlie, ex-namorado da garota, e sua trupe de trogloditas rednecks, trabalhará na reforma do celeiro do feliz casal. Aos poucos, a tensão entre o casal e seus novos vizinhos vai saindo de controle, tornando a vida de todos, um inferno.

O elenco do filme é muito interessante, se considerarmos o original. Na época, Dustin Hoffman era tão mirrado e indefeso como hoje. Magrelo, sem graça, a antítese do galã hollywoodiano. O que dizer de James Marsden, senão que ele é provavelmente o maior corno da história do cinema recente (vide X-Men, Superman - O Retorno, Encantada e Diário de uma Paixão, por exemplo). Em uma atuação tão irritante e apática como lhe é solicitado, torna-se o alvo perfeito para sofrer o calvário nas mãos de Alexander Skarsgard (faltou o °), em uma atuação impecável como o protagonista de toda a ira vindoura que deve recair sobre seu personagem. Turrão, grosso e rivalizando com sua ex-namorada na vida real, Kate Bosworth, no que diz respeito a quem fica mais tempo sem roupa durante o filme. O trio levaria o filme nas costas, não fosse por outras participações interessantes como de James Woods, como o lunático "Coach".
 Fecha essa camisa Eric...Charlie!

Após a metade do filme quando a cena que dará o estopim para o cerco à fazenda finalmente acontece é que o filme acaba por perder um pouco de seu impacto. Querendo o não, o estupro é previsto pelo espectador. A forma como ele acontece e como a esposa reage a ele é que não consegue ser tão sentida quando no original. Falta a ligação com a personagem que parece fazer de tudo para que aquilo aconteça, eximindo o marido de seus erros. O remake simplesmente coloca a culpa de tudo o que acontece não na apatia de Marsden, mas na insatisfação de sua mulher. Mesmo que o original deixe claro que isso faz parte de uma tentativa de vingança da esposa, são os pequenos detalhes que fazem com que a nova versão perca a essência de Straw Dogs.

As cenas finais finalmente desforram toda a raiva causada durante o resto do filme e o final animalesco, preenche todas as expectativas do espectador frustrado. O positivo é a última cena, na qual o personagem de Marsden assiste ao celeiro em chamas e que dessa vez superou inclusive o original. Uma cena que simboliza linhas de diálogo que talvez não fossem necessárias depois de tanta verborragia.
 

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