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Livro: O senhor das moscas


Ultimamente, tenho pensado bastante sobre o comportamento humano, do ponto-de-vista Psico-sociológico(aliás, devo estar enchendo o saco com esses Psico-alguma-coisa em todos os posts, mas é porque estou fazendo psicologia e sociologia geral e esse termos estão sendo usados implacavelmente), principalmente por causa das ondas de violência que vem nos afligindo. E, até como as pesquisas tem mostrado, o índice de crimes caiu consideravelmente no mundo todo. Então o que tem acontecido??? E todos esse crimes terríveis que vem se multiplicando???
Na verdade, a criminalidade continua a mesma e realmente tem havido menos crimes em proporção mundial. No entanto, a violência com que esses crimes tem sido praticados, aumentou exponencialmente.



Refletindo sobre esses assuntos, lembrei-me de um livro que li há alguns anos chamado "O senhor das moscas". Escrito por William Golding, em 1954, mas acabou por não fazer muito sucesso na época, tendo uma tiragem ínfima de 300 cópias. Porém, anos mais tarde, o livro se tornou um marco sobre a natureza humana, além de se tornar uma alegoria política que contrasta o fascismo e a democracia.


Mas enfim, essa não é a parte em que eu me basearei para desenvolver essa resenha e sim na história, que em si só provoca assunto para muito tempo. O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra.


Após a queda do avião, as crianças ainda um pouco atordoadas com os acontecimentos, vagam perdidas pela ilha, sem destino e sem idéia do que fazer. Acontece que Ralph, o personagem principal encontra Piggy(Porquinho) e ambos conversam sobre o ocorrido. Piggy é um garotinho gordo, mas muito inteligente e Ralph, o mais velho do grupo. O que podemos ver além da conversa inicial dos dois e principalmente das crianças em geral, é quase um vislumbre do início de nossa civilização: as pessoas sem rumo, sem uma ordem à ser seguida, totalmente dispersas.

Então, Piggy encontra uma concha muito grande e diz que aquilo pode servir muito bem como uma trombeta. Quando ela é soada, podemos ver que todas as crianças se unem ao seu redor, como um chamado de volta a humanidade. Ali, eles criam uma assembléia, decidindo o líder, tarefas, dando significado a suas vidas novamente, enquanto o resgate não chega.

Nesse contexto, a concha soando, pode significar os primeiro sinais de organização política e social na aurora da civilização. A concha representa a ordem. "Quem tem a concha tem o poder" declara Ralph, o líder, como uma sentença. Assim, as coisas começam a se ordenar na ilha. Mas, conforme o tempo passa e o resgate não chega, as crianças voltam a deixar as tarefas de lado e a brincar, as mais novas nem o "banheiro" usam mais e essa inquietação culmina quando Jack, o segundo mais velho do grupo, junta outros meninos e conseguem caçar um porco selvagem. Após discutirem com Ralph, Jack e alguns outros decidem formar um acampamento de caçadores mais longe. O interessante é notar que mesmo Ralph, quando caçaram a primeira vez o porco se juntou na dança "ritualística", ou seja, sucumbiu `a selvageria como os outros e no começo do livro, ele era um dos que apreciou a idéia de não haverem adultos na ilha. Na verdade, Goldling durante toda sua narrativa, contraria Rousseau, com uma teoria de que o ser humano eh selvagem por natureza, e quando essa natureza predomina, ele perde toda humanidade adquirida.

Isso acontece cada vez mais na ilha, até seu ápice que começa quando embebidos pelo sangue de um dos animais e durante um lapso de loucura confudem um dos meninos com um monstro e o matam. Ralph então desperta e tenta novamente impôr ordem através da concha, mas agora Jack e os outros meninos já perderam todo traço de civilidade e no seu último ato consciente, mata outro personagem, muito importante para história e destrói a concha.

Ou seja, a civilização quando perde seu instrumento de controle sobre a massa(as leis), joga o povo em um estado de caos, fazendo com que seus instintos mais violentos venham à tona, revelando o lado mais obscuro de cada pessoa. Partindo do princípio de que todos somos seres maus por natureza, isso faz total sentido. A "semente do mal"nos acompanha desde muito novos até o momento em que morremos, e só se desenvolve com o passar do tempo.

A história então culmina com a caçada dos meninos a Ralph que aparece como último resquício de humanidade e inteligência contra a força bruta e a ignorância. O final se mostra surpreendentemente trágico, mostrando a inocência dos meninos completamente destruída pela ambição humana.


E fica a pergunta: quanto ainda falta para que nós execremos de vez a lei e a ordem e nos tornarmos apenas fantoches do nosso inconsciente maligno, que a todo momento procura achar uma brecha em nosso consciente para nos dominar?


O livro é tão atual quanto no ano em que foi escrito e apesar de tratar de um tema fortíssimo, apresenta uma leitura clássica, mas ao mesmo tempo de fácil compreensão, melhorando assim a leitura para aqueles que encontram dificuldade com o mundo das palavras. Vale como dica de livro e como reflexão e debate.

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