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Antes do amanhecer e do pôr-do-sol



Há certos filmes que muito ouvimos falar bem, mas muitas vezes nem perto chegamos. É uma surpresa quando assistimos um deles e nos deparamos com uma verdadeira peça de sétima arte. Não que Antes do Amanhecer se proponha como uma obra prima, mas sem dúvida é um filme memorável, provavelmente o melhor do diretor RICHARD LINKLATER, superado unicamente por sua continuação, Antes do Pôr-do-Sol. O filme é uma amostra de como o cinema que foge das convenções hollywoodianas, pode ser agradável e instigador.

O lado bom do filme é sua história simples, que ganha muita riqueza pela qualidade dos diálogos, escritos com competência pelo diretor. Assim, conhecemos Viena, pelo ponto de vista de dois desconhecidos, que arriscam passar um dia juntos, antes de nunca mais se encontrarem. Os dois jovens, cada um com seu ideais, seus sonhos, e sem nada a perder, começam a encontrar um no outro, características semelhantes. Ethan Hawke e Julie Delpy, os dois atores, sabem carregar o filme nas costas sem mesmo a necessidade de coadjuvantes. Mesmo jovens, ambos mostram interpretações delicadas e fortes.

Tecnicamente o filme é delicioso. Uma fotografia simples, uma câmera que só acompanha o casal nas conversas, e caminhadas pela cidade. A falta da trilha sonora em todo o filme é um ponto a mais. Não a nada mais ilusório do que música para acompanhar por quase um dia inteiro os personagens. Por isso mesmo, ela só aparece em partes-chave do filme. O final não é meloso ao extremo, mas pode indignar espectadores despreparados...

Talvez a única ressalva seja o fato do filme tentar representar muito tempo em apenas duas horas. O dia parece ser maior do que realmente parece e há muitos lapsos na história, que podem ser ou não, preenchidos pelo espectador.

E é nessa pequena falha, que entra em cena o sucessor Antes do pôr-do-sol. Ao final da história anterior, os dois jovens prometem se encontrar de novo seis meses depois. No novo filme, dez anos após o encontro, o personagem de Ethan, escreve um livro contando as experiências ocorridas naquela noite de 95. Após uma sessão de debate e autógrafos em uma cafeteria de Paris, ele encontra novamente a personagem de Julie Delpy, e assim, decidem aproveitar a última hora, antes que seu vôo parta.

Agora, a história se passa em tempo real. Cada minuto que passa do filme, acaba com um minuto do encontro dos personagens. Sem contar muito da história, vale a pena ressaltar a maturidade tanto dos atores quanto dos personagens. Os diálogos idealistas, as idéias de mudar o mundo, não existem mais. Foram substituídas pela realidade. Mas é quando o tempo começa a se esgotar que ambos abandonam as cascas e revelam seu interior. Cenas fortes, viscerais as vezes. A interpretação de Julie entrando em desespero causa incômodo. Nos sentimos como Hawke ao lado dela: pequenos, sem saber o que fazer. Delpy rouba a cena na maioria das vezes. O final é outro algo. Você sabe que a história acaba, mas você não se conforma. O que podemos dizer, é que sentiremos falta de produções como essa. Por um bom tempo...

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