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Sem Destino - O coração da América


Sem Destino - O coração da América

Nota: 10 / 10

Easy Rider
EUA , 1969 - 95 min.
Aventura

Direção:

Dennis Hopper

Roteiro:

Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern

Elenco:

Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson


A abertura, quase silenciosa, mostra dois sujeitos bastante estranhos comprando cocaína no México e revendendo no EUA. Eles escondem a bolada no tanque de uma Harley-Davidson e pegam a estrada. Quando começam a desaparecer no horizonte a câmera corta. Lado a lado, eles pegam a auto-estrada ao som de "Born to Be Wild". É impossível ser mais enlouquecedor do que essa cena. Desde 69, é impossível distinguir essa música da sensação de liberdade de andar em uma moto rumo ao nada. Hino de grupos de motoqueiros e tão poderoso como ela é Sem Destino, primeiro filme de Dennis Hopper como diretor. Mais do que apenas criar essa mitologia, o filme desafia os próprios conceitos da sociedade americana e, discordando da maioria, permanece tão atual quanto há 41 anos atrás.

Dois amigos, Wyatt e Billy, saem em duas motos para conhecer a América que tanto amam. Vão descobrir que ela é muito diferente do que eles imaginam.

Premiado no Festival de Cannes, indicado ao Oscar de melhor roteiro, Sem Destino tem qualidade surpreendente para a época e para seu orçamento. A fotografia do deserto é belíssima, principalmente quando capta o pôr-do-sol. A direção consegue manter um ritmo de rock, alternando as cenas com cortes intercalados, algo diferente mesmo em filmes atuais. Outro momento interessante é a captura da viagem alucinógena dos personagens feito com uma lente grande angular, que parece dar um tom ainda mais enlouquecido à cena. Dennis Hopper sabe utilizar bem seu espaço em tela, preenchendo com os protagonistas e coadjuvantes, de maneira que o ambiente pareça ser menor do que eles.

As atuações também auxiliam nessa ideia. Com diálogos bem contruídos, vemos um Peter Fonda de início empolgado e aos poucos, sem dizer muitas palavras, vendo seu país jogado em uma redoma de medo e preconceito. Dennis Hopper cria o papel, ao qual repetirá em Apocalipse Now, do hippie desbocado. Temos mesmo a aparição de um jovem ator da época que, após o filme, tornou-se um dos mais importantes da sua geração. Jack Nicholson é aqui um personagem que, provavelmente, é um dos mais normais de sua carreira.

O grande trunfo de Easy Rider é manter um discuro que ninguém poderia imaginar que seria tão relevante quase 40 anos depois. A América prega sua liberdade de ser aquilo que você quiser, mas erroneamente julga aqueles que se livram dessas convenções sociais devido aos inúmeros preconceitos pré-estabelecidos culturamente em sua sociedade. A própria existência de um indivíduo livre parece lembrar a essas pessoas o quanto elas são presas e por isso mesmo, é mais fácil odiá-lo do que ser como ele. Esse medo da mudança só tende a gerar a violência que é parte chocante e imprevisível do filme.

Sem Destino é mais do que apenas um filme: é uma profecia sobre o fim do sonho de uma geração.

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