Aglomerando

Aglomerando - Agregador de conteúdo

Irmãos Grimm - Mais devaneios de Terry Gilliam


Assim como todo bom conto da Mamãe Ganso, este também calca seu início em um dos jargões mais conhecidos em narrativas: Era uma vez...

Protagonizado pelo falecido Heath Ledger e seu companheiro Matt Damon, o filme é uma viagem fantástica pelo mundo dos contos de fada e sua moral escondida. Na história, ambos vivem os irmãos do título, trambiqueiros de primeira que vendem a solução para assombrações, vampiros e outras criaturas das trevas. Por onde passam sua fama os precede. Mas, o domínio francês da razão, cada vez mais forte, parece oferecer o único risco à carreira dos Grimm. Até que ambos são recrutados para descobrir onde as garotas de certo vilarejo estão indo parar.

O diretor Terry Gilliam, é velho conhecido das histórias bizarras. O tom expressionista que dá a seus filmes é fundamental para não jogar os Irmãos Grimm, na lama e no lugar comum que um filme desses pode parecer. Diferente de similares seus, como Van Helsing, o filme traz outras questões bem mais interessantes e que rendem boa análise.

Podemos ver desde o começo a luta entre razão e imaginação. A revolução francesa e a expansão de Napoleão Bonaparte pela Europa, seguiam firmemente o caráter racional de seu líder. Tudo aquilo que representasse a imaginação, ou algo contra a razão era considerado subversão e traição. Em uma Alemanha que não tinha essa diferença, a superstição ainda falava mais alto.

A primeira cena com os dois irmãos deixa claro sua oposição. Enquanto o personagem de Damon renega os feijões mágicos, Jake acredita que eles têm algum poder. Essa diferença será o eixo central das discussões que a história nos leva. A própria fotografia do filme colabora com essa sensação. As cenas que mostram o lado racional humano, tendem a parecer mais pálidas e claras do que o normal. As cenas que perpassam o sobrenatural e a imaginação, enchem-se de tons escuros, sobrepostos pelo vermelho.

            Um personagem essencial nesta trama é o italiano Cavaldi. Ele começa a história como um cético irredutível. Enquanto o tom do roteiro vai mudando, Cavaldi acompanha essa sua transformação. Diferente do exército francês que, cego pela sua loucura, incendeia tudo que estiver a sua frente, assim como já fizera antes com este tipo de literatura subversiva. Aquilo o que é contra a razão não deve ser poupado, mas queimado.

            Dito isto, fica mais fácil entender as razões por trás dos mitos criados pelos irmãos Grimm, em seu mais famoso livro, os contos da mamãe ganso. Rico do imaginário popular, o conto delineava sempre uma lição de moral em seu final atípico e pitoresco.

            De acordo com a história, essas pequenas historietas tinham o objetivo de passar não uma lição de moral, mas de medo nos pequenos. A distinção entre a infância e o adulto só começou a ser percebida a partir do final do século XIX. Por isso, as histórias originais, nada tinham de inocentes.

            A chapeuzinho vermelho desviava-se do caminho, como no conto que conhecemos. Agora, o que poucos sabem é do strip que ela fazia para o lobo antes de ser devorada pelo salafrário. E não tinha lenhador algum para salva-la. O sexo era o aperitivo a mais que as histórias tinham, para atrair a atenção dos ouvintes e marcar ainda mais a importância de nunca andar pela floresta sozinho. A bela adormecida era violentada pelo príncipe e a Cinderela assassinava sua madrasta. A façanha dos Grimm foi transformar essas histórias em contos que adaptavam-se à época e traziam boas lições de moral.

            Em seu jogo de imagens, Terry Gilliam consegue subverter os elementos clássicos, de forma mística e até bizarra. O lenhador é na verdade o próprio lobo. Na contemporaneidade que vivemos, não é algo bastante perturbador. O incólume e sábio lenhador, incorruptível, é na verdade seu maior inimigo, justamente por deixar-se levar por uma cega paixão que rouba-lhe completamente o caráter e a vida. Ao servir a bruxa algo fica bem claro: nenhum herói é incorrupto. Todos estão sujeitos à falhas. Principalmente de caráter.

            A bruxa reforça no imaginário popular, a questão da beleza relativa. O verdadeiro mal, apresenta-se no filme uma ilusão bela e deliciosa, quando a realidade mostra uma casca vazia e sem vida. Sem expressão, a beleza inerte continua a atrair desavisados e tolos que se deixam levar pelo exterior, e não valorizam aquilo que realmente importa em uma companhia. A senhora feia que oferece maçãs é uma bruxa disfarçada, só porque é feia.

            Quando os dois irmãos mostram suas funções de cinderela, não estaria o diretor simbolizando o homem moderno? A caçadora que é a real heroína é que tem todo o trabalho de salvar seus homens.

            E nessa última parte, talvez o ponto mais interessante de toda a película. A mocinha não escolhe um príncipe. Mas, afinal, só porque ele salvou-a, isso garante amor e felicidades eternos? Claro que não. E porque deveria? Ela agradece a ambos, porque gosta deles. Mas, só por isso deveria se atrelar o resto da vida aos Grimm? Essa última espetada do diretor é a agulhada final de Gilliam ao reino mágico criado pelo imaginário popular.

            A felicidade nunca é eterna. É sempre relativa.

 

Um comentário:

Juliane Soska disse...

não to conseguindo fazer o trabalho de semiótica.
me aJUda?
rsrrs
bjs, dispostinho