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Mr. Vingança - Indigesto, chocante e inteligente


Tem certas peculiaridades e adaptações que o cinema americano considera politicamente incorreto trazer a um filme, no cinema. São como regras subjetivas que visam poupar o espectador de uma reflexão maior sobre a obra, por se tratar de cenas fortes ou que vão contra uma moral pré-estabelecida. É por isso que os filmes estrangeiros que lá rodam, não fazem sucesso entre o público médio americana. Fernando Meirelles disse que cabeças estourando, o americano não dá bola. Mas, é só mostrar um estupro que o filme está oferecendo violência gratuita. Isso tudo, por conta da organização religiosa de onde o país surgiu e criou tantos bloqueios. O que dizer então, dos países orientais, onde essa tradição milenar se impõe ainda mais forte, com retalhações fortes a desvios de comportamento? Por isso, o feito do diretor coreano Chan-Wook Park, com seu Oldboy de 2005, foi uma tarefa ainda mais árdua, por envolver fortes questões como violência física exagerada e até incesto em seu roteiro. Tudo isso, parte da Trilogia da Vingança, iniciada em 2002 pelo filme Simpathy for mr. Vengeance(no Brasil, Sr. Vingança), que chegou recentemente ao país, devido ao sucesso de seu predecessor.

A história mostra o surdo-mudo Ryu, que tenta achar um doador de rim para sua irmã. Nessa busca, decide comprar um órgão no mercado negro. Os contrabandistas, no entanto, apenas roubam o seu rim e todo o dinheiro, deixando-o sem nada. Assim, ele e sua namorada sequestram a filha de seu ex-chefe e cobram resgate. Depois disso, duas reviravoltas mudarão todo o destino dos personagens envolvidos.

Isso é tudo o que pode se falar do roteiro, sem entregar demais a história. O diretor sabe muito bem como consuzi-la. Park tem paciência e suas tomadas deixam isso muito claro. Ele não abusa de cortes, utiliza-os com precisão. A maioria das cenas, parece deixar a câmera simplesmente parada, deixando a cena seguir seu rumo, sem interferir de qualquer forma. Um foco no rosto de uma morta enquanto uma garota se afoga ao fundo, sem que Ryu se dê conta, é a forma de amenizar a crueza da cena. As poucas falas do filme apenas delineiam as sensações que a visão preenche. As saídas utilizadas pelo diretor para problemas, como a incapacidade de Ryu em comunicar-se, são expressas de maneira competente, como utilizada no cinema mudo. Uma homenagem muito bem-humorada, assim, como o personagem perturbado que rouba a cena nos momentos em que aparece. Humor negro de primeira!

Se os méritos do diretor são tantos, deve-se muito ao poder do roteiro. Escrito pelo próprio e por seu irmão, a história é de uma originalidade que faz falta em Hollywood. Cada reviravolta é muito bem bolada, assim como cada saída para situações provocadas. Um trabalho primoroso, que conta com a ótima atuação dos protagonistas. O chefe de Ryu, Park Dong-jin(Kang-ho Song, de O Hospedeiro) mostra que é o verdadeiro protagonista do filme(será?)  ao assumir o terceiro ato da película e liderá-lo até o final. 

Seu Madruga já dizia: A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena. O ciclo de violência que inicia-se nos primeiros momentos, tende a piorar cada vez mais no desenvolvimento da história. Quanto mais os personagens afundam-se em suas obsessões, mais tornam-se imunes à dor, mais mortos a cada momento. Esse é o grande veneno que os destrói.

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