Contraponto é um filme diferente daquilo que você já viu. Terry Gilliam, diretor da melhor série de comédia de todos os tempos, Monty Python e de outros filmes malucos, como Brazil e Os Doze Macacos, consegue superar-se na psicodelia do romance de Mitch Cullin.
Na história, Jeliza-Rose, uma menina de 9 anos, costuma fugir da realidade cruel de sua vida para dentro de sua imaginação. Nas jornadas por esse estranho universo criado por ela, a menina é acompanhada por quatro cabeças de boneca presas aos seus dedos e um deficiente mental chamado Dickens.
Terry Gilliam tem uma característica artística expressionista muito forte. Isso é passado para as telas de uma forma visceral nas tomadas de câmera, movimentação, cores berrantes, tamanhos desproporcionais, ângulos e cenários estranhos. É perturbador ver o desenrolar da história na mão calma e severa do diretor. Se o visual do filme não fosse suficiente, é mais estranho ainda ver a complexidade dos textos e o talento da pequena Jodelle Ferland que segura suas falas de maneira incrivelmente competente.
Aliás, todos os atores são excelentes. Jeff Bridges, no pouco tempo que aparece é competente e sua presença, mesmo que apenas na primeira meia-hora do filme, marca toda a película. Jennifer Tilly e Brendan Fletcher são ótimos, mas o talento de Jodelle ofusca qualquer outra aparição. As diferentes personalidades que a garota manifesta, nas fantasias de suas bonecas, aliada a profundidade da interpretação e às falas verborrágicas que o roteiro impõe, fazem dela uma proeminente atriz.
Roteiro que é uma aula pra tantos. Começando pelas inocente leitura de Alice no País das Maravilhas, ele vai dando pequenas dicas do que está acontecendo com a menina e seu mundo. Sua vida, cada vez mais imaginativa e menos real. Os personagens de sua vida, cada vez mais alterados pelo seu estado, esquilos falam. Em certo ponto da película, a garota simplesmente ouve as vozes das bonecas em sua cabeça e nem mesmo mexe a boca para falar. Isso pode passar despercebido para algum espectador pouco atento. Outro ponto interessante, são as roupas da menina, que vão tornando-se mais e mais insanas, conforme ela vai transformando-se neste novo ser.
Um filme forte, quase um pesadelo, sobre a solidão e a imaginação.
2 comentários:
bizarro
não gosto de filmes assim com crianças
é legal. mas tem que ter um pouco de estômago
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