Aglomerando

Aglomerando - Agregador de conteúdo

Watchmen: o filme - Adaptando o inadaptável


Quem é iniciado no mundo dos quadrinhos, provavelmente já leu ou ao menos já ouviu falar daquela que é considerada a obra-prima das Graphic Novels, Watchmen. Complexa, intrincada, indigesta e violenta, ela representou uma quebra no formato das histórias em todos os tempos. Jogou um ácido virulento nas formas perfeitas e intocadas dos super-heróis. O super-homem é quase um deus que pouco se lixa para a humanidade e o "Batman" está em crise de meia-idade e é broxa. Nessa realidade paralela os limites morais confundem-se e variam de vigilante para vigilante. Imorais, com um senso de justiça muito próprio, eles impõe a justiça como a consideram correta. Isso tudo, tornou a obra uma referência em todo o mundo e, devido a sua complexidade, disseram que era inadaptável ao cinema. Até Zack Snyder aparecer.

Depois de ressuscitar as franquias de zumbi com o sanguinário Madrugada dos Mortos e adaptar a obra de Frank Miller, 300, com um visual impecável e diferenciado, sobrou pra ele a responsabilidade de passar as telonas uma versão verossímil de Watchmen. A história acompanha um grupo de super-heróis aposentados que começa a suspeitar de uma conspiração, após a morte de um de seus integrantes. Resumindo da maneira mais simples possível é isso. Mas, a complexidade da aventura vai muito além.

Em uma realidade paralela, a influência dos supers, ajudou o governo dos EUA a ganhar a Guerra do Vietnã, alterando toda a história do país. Nixon foi reeleito uma terceira vez, Bob Woodward e Carl Bernstein são apenas uma piada. Diferente daquilo que se imaginava, isso acentuou a decadência moral do país e complicou ainda mais a Guerra Fria, começando o filme com a estruturação do relógio do juízo final: um medidor que analisa a situação e mostra quanto falta para o holocausto nuclear.

Em duas horas e meia, Snyder passa o fio principal da história, bombardeando o espectador com imagens geniais, e diálogos transcritos palavra por palavra dos manuscritos de Alan Moore, que não apóia qualquer adaptação ao cinema(uma longa história). Claro, que você não deve esperar nada do que já tenha visto. Esqueça o ritmo frenético de X-Men, o humor de Homem-Aranha, a benevolência de Superman e mesmo o sombrio light de Cavaleiro das Trevas. O exemplo mais perto que você vai encontrar é no brutal Sin City. E Watchmen vai além.

A trama segue um enredo não-linear. Volta e meia somos bombardeados pelas memórias que ajudam a compreender o estado atual dos personagens. Claro, nos quadrinhos essa abordagem é mais elaborada, mesmo pela questão de tempo. Snyder prometeu uma versão do diretor com mais 40 minutos de filme em breve, e que deve abordar melhor outros elementos da história, que ficaram de fora dessa versão. Há também duas histórias paralelas, lançadas em DVD em 26 de fevereiro: O livro Under the hood, com os segredos dos Minutemen e Watchmen, citado brevemente no filme, e os contos do cargueiro negro, história paralela do garoto que lê gibis e o dono da banca, que passam rapidamente no filme e ninguém entende nada.

Watchmen não é um filme fácil. O espectador que espera mais uma história de super-heróis comum, pode não suportar o peso do filme e abandonar a sala após a primeira hora de exibição. Não é uma história comum e não pode ser levada como tal. Precisa de atenção e disposição para encarar a empreitada. E com certeza, fica mais difícil para quem nunca leu a HQ. E isso também afetou a crítica ao filme. Sem dúvida, ela se dividiu entre aqueles que consideram o filme 8 ou 80. O ritmo lento do desenvolvimento, os inúmeros diálogos, as poucas cenas de ação desanimaram muitos, enquanto maravilharam outra parte. Enquanto alguns prevêem o fracasso, outros vêem a oportunidade do espectador médio evoluir no seu gosto e ainda saem satisfeitos da sala, quando as outras pessoas tentam assimilar o caos que o filme despacha nas mentes despreparadas.

Como tantos outros filmes injustiçados ao longo dos tempos, que mais tarde tornaram-se marcos, Watchmen parece demonstrar o mesmo potencial. Com o Boom! dos quadrinhos no cinema, o preconceito e as comparações podem afetar a análise do filme, o que daqui há uns dez anos, vai tornar o filme um marco na história do cinema em quadrinhos(ou vice-versa). Para esse humilde resenhista esse não é um filme oito ou oitenta. É 100 mesmo.

Um comentário:

Mateus Trindade disse...

Quem vigia os vigiantes? eis a questão.

Não sei porque postei isso, mas........