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O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus - O último expressionista do cinema

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus - O último expressionista do cinema

Nota: 10 / 10

The Imaginarium of Doctor Parnassus
France | Canada | UK , 2009 - 122
Drama / Fantasia

Direção:
Terry Gilliam

Roteiro:
Terry Gilliam e Charles McKeown

Elenco:
Heath Ledger, Johnny Depp, Colin Farrell, Jude Law, Christopher Plummer, Lily Cole, Tom Waits, Verne Troyer, Andrew Garfield

A loucura é sempre um tema recorrente nos trabalhos do cineasta norte-americano Terry Gilliam. Desde sua participação no grupo britânico Monty Python, com animações surrealistas e tresloucadas, o diretor utiliza basicamente o non-sense nos seus roteiros e privilegia uma estética expressionista que pode fazer dele um dos últimos verdadeiros utilizadores desta técnica no cinema atual. Brazil - O Filme é o seu auge em popularidade, em uma obra que mostra uma sociedade autoritária que reprime qualquer liberdade e incentiva valores falsos, como a estética e o dinheiro (...). De lá pra cá, o diretor viveu uma espiral descendente terrível. A falta de incentivo a seu trabalho chegou ao cúmulo de fazer com que o diretor fosse mendigar patrocínios nas ruas de Hollywood como forma de protesto. Convenhamos, os filmes de Gilliam são intragáveis para o público leigo, apesar de serem peças de arte irretocáveis. Seu Medo e Delírio em Las Vegas só aconteceu por influência de Johnny Depp e Irmãos Grimm, seu último grande filme com orçamento inchado, falhou miseravelmente nas bilheterias mundiais, apesar de ser apreciado como análise de cinema. Graças a imensa amizade com os atores que trabalha, Terry Gilliam sempre consegue auxílio de artistas que normalmente cobrariam um cachê abusivo em suas empreitadas. Depois de Contraponto, que contou com participação de Jeff Bridges, Gilliam produzia mais um filme que aparentemente não teria grande repercussão na mídia, junto com seu amigo de Irmãos Grimm, Heath Ledger, ator que estava para se tornar um dos mais importantes do ano de 2008, no papel do Coringa, em Batman - Cavaleiro das Trevas. Durante as filmagens de O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, Heath Ledger morreu.

A história mostra um monge que adora apostar com o diabo. Quando perde a sua filha, faz uma nova aposta e contará com a ajuda de um estranho desmemoriado para salvá-la.

Terry Gilliam retoma a linha de fantasia utilizada em Irmãos Grimm e faz um filme bem menos intrincado e denso do que Contraponto. Graças a Deus, acredite. Apesar das inúmeras qualidades do filme anterior, a viagem é pesada demais para ser suportada por espectadores despreparados e o clima leve e aventuresco que Parnassus estabelece é ideal para sua história. Estão lá as características expressinonistas do trabalho de Gilliam, mas ficam mais acentuadas apenas do outro lado do espelho, onde são aceitas por sua forma cartunesca. O importante aqui é ressaltar esse clima aparentemente leve que o filme cria. Os efeitos especiais (graças ao razoável investimento no "último trabalho de Ledger") são competentes e mostram o dedo do diretor em cada design de produção.

O elenco é irretocável. Heath Ledger está tão bem em sua última atuação que não se destaca do quadro geral, mas consegue se amalgamar de tal forma à história e o resto do elenco, que preenche a história ao invés de ser mais do que ela. Essa é uma grande tarefa para um ator que precisa de filmes gigantescos para não se destacar da história e mesmo assim, é marcante. Quero dizer que em Batman sua performance é tão forte que nenhum ator consegue superá-lo e, por mais que não pareça, a história do filme perde com isso. Por isso, em Parnassus ele consegue algo tão díficil: acomodar seu talento e deixar a história ser contada.

Dito isso, seus sósias chamados para completar o filme...
(Ps: como o ator morreu durante as filmagens, 3 amigos seus assumiram a tarefa de substituí-lo quando o personagem entra no mundo imaginário)
estão à altura da tarefa. Johnny Depp, sem trejeitos desnecessários mostra que nas mãos do diretor certo, consegue voltar às raízes de sua atuação sutilmente bizarra. Jude Law também chama a atenção bem como Colin Farrell, que completam a história e não deixam nada a dever para o ator. Já Cristopher Plummer, apesar de uma atuação bastante abafada por esses outros nomes é um ótimo Parnassus, que nos dá vontade de conhecer mais de seu mundo imaginário. O outros membros do elenco cumprem bem suas funções.

O grande mote do filme é justamente imaginar. Não só imaginar, como saber fazer suas escolhas, quando todos estamos inclinados a pender para o mal. Mais fundo ainda, analisa a natureza de cada um e mostra que mesmo os desejos mais sombrios podem ser transformados em uma forma de felicidade se bem utilizados. Essa gama enorme de sentidos faz da história um filme para ser revisitado várias vezes. Um visual belíssimo, tanto nas cenas cinzas e feias de Londres, contrastando com o mundo colorido e sombrio da imaginação. Destaque para o tango do diabo, cena onde uma dança é refletida por diversos pedaços de espelho quebrado pela sala, enquanto o capeta tenta impedir um sacrifício de uma alma "pura". Roteiro com ótimas reviravoltas, personagens ricos, tudo que um filme precisa para entrar na memória do cinema.

Em sua última cena, aparece: "Um Filme de Heath Ledger e seus Amigos". Uma homenagem póstuma em um filme que não teria chances sem ele.

4 comentários:

Natalia X. disse...

Esse filme é incrível! Toda a fotografia e elementos gráficos são perfeitos, as referências visuais, destacando com elegância o bizarro e o imaginário, num clima surrealista e até meio vintage!
O poster principal é um dos melhores que já vi (ele até ganhou o premio de melhor poster 2009 pelo IMP).

Sou suspeita para falar, porque adoro este estilo, e até então não conhecia o trabalho de Gilliam, e o quão bem ele domina nisso.

A história chega a lembrar Fausto, porém num final bonito que nos leva a reflexão.

O contraste da suja Londres com o colorido do mundo imaginário, faz parte de uma linguagem que há muito não via (talvez o ultimo foi em Edward, mãos de tesoura).

E a cena do tango, é uma das melhores.

Só queria saber pra que tantos atores para substituir Ledger. Sei que a idéia era pra intensificar mais ainda a caracteristica de multiplas facetas do ator, mas acredito que só o Depp já bastava.

Pena Ledger ter morrido. Tantos papéis bem representados! Um cara que superou o proprio Nicholson num papel de louco (que até entao ninguem fazia melhor), poderia ter nos motrado muito mais!

Xi, falei mto! Tchau!

Bjos e td de bom!

Natalia X. disse...

Correção:
"multiplas facetas do personagem"

Misael Lima disse...

Olha, acredito que o fato de não ter sido apenas o Depp, foi pro conta mais de agenda do que propriamente de história.

Tb acho que só uma mudança era o suficiente, mas o colin farrel e o jude law trouxeram outros elementos que talvez o Depp sozinho não poderia para o personagem.

Gosto muito daquela cara de irlandês sacana do Farrel

will disse...

O filme é incrível! O melhor do Terry Gilliam até agora, na minha opinião!!!

Olha, na questão da mudança de ator, acho totalmente pertinente mudar as três vezes, por que cada vez que o Tony entrava na imaginação de alguém, ele mudava para o que a pessoa queria, entende? Acho que não teve a ver com agenda, talvez nem tenha a ver com a morte do Heath, definitivamente ficou bem melhor se fosse ele em todas as cenas do espelho...
Talvez, só talvez, ele fosse ser modificado cada vez que entrasse, com maquiagem ou CG, mas com atores diferentes ficou muito mais maluco e genial, achei perfeito!